13 de dezembro de 2022

19 Como Armstrong despreza Josefo e deturpa criminosamente Hegésipo para salvar o dogma da virgindade perpétua


Nota introdutória
 
Dave Armstrong é um famoso apologista tridentino norte-americano conhecido por passar o dia inteiro atacando os protestantes na internet em vez de arrumar um trabalho, aproveitando o seu imenso tempo livre para escrever infindáveis artigos que seus oponentes não terão tempo de responder até ganhá-los pelo cansaço e cantar vitória (não à toa, sempre fugiu de debates ao vivo, onde o oponente teria o mesmo tempo que ele e ele não teria como correr para o Google). Desde o início do ano criou uma verdadeira obsessão pela minha pessoa e escreveu mais de 50 artigos “against Lucas Banzoli” antes que eu respondesse qualquer coisa. Sempre com uma linguagem hostil e provocadora, apela ainda a calúnias e difamações típicas da apologética católica (tais como que eu sou “não-teísta” e que “nego a divindade de Cristo”).
 
Depois de passar meses quase implorando pela minha atenção decidi respondê-lo com artigos que refutam linha por linha os seus impropérios, e descobri que, quando refutado, ele responde a um texto de 30 páginas com artigos de 5 páginas onde repete tudo o que já foi refutado e ignora todos os argumentos mais fortes. É superficial, fraco e desqualificado que só continua sendo respondido porque fiz das respostas ao Dave o meu novo esporte favorito (e porque estes artigos serão compilados para um novo livro de respostas às acusações papistas mais comuns, e nada melhor do que demonstrá-las na prática com alguém que se gaba por ter mais de 4 mil artigos “refutando” o protestantismo).


Como Dave despreza vergonhosamente o testemunho de Josefo
 
No dia 7 de setembro de 2022, Dave escreveu um artigo intitulado “Tiago, ‘irmão’ de Jesus: Josefo versus a Bíblia e Hegésipo”, onde responde ao meu artigo de 2018 sobre “Flávio Josefo é a prova irrefutável de que Tiago era irmão (e não primo) de Jesus”. Antes de partirmos para a parte da refutação em si, convém introduzir brevemente a questão para quem ainda não está familiarizado com a discussão. Flávio Josefo é o historiador judeu mais famoso da história, que viveu entre 37 e 100 d.C – ou seja, pouco depois de Jesus – e que conhecia bem os cristãos, apesar de não ser um. Seu testemunho sobre a existência histórica de Jesus é ainda hoje tido como a evidência mais forte da historicidade de Cristo, e seus escritos sobre a guerra entre Jerusalém e Roma de 70 d.C e sobre os usos e costumes dos judeus da época é de longe o material mais rico que possuímos deste período.
 
O que poucos sabem é que Josefo não falou só de Jesus, mas também de Tiago, que a Bíblia chama de “irmão do Senhor” (Gl 1:19; cf. Mc 6:3). Os apologistas católicos, para sustentar o dogma da virgindade perpétua de Maria, alegam que os irmãos de Jesus que os evangelhos se referem são na verdade primos (apesar do grego constar adelphos e não anepsios, que é o termo próprio para “primo”, como mostrei amplamente neste artigo). O problema é que Josefo, que escrevia em grego, se refere a Tiago como irmão (adelphos) de Jesus, ao mesmo tempo em que se refere rotineiramente a primos (anepsios) ao longo de toda a sua obra, os quais são claramente distinguidos dos irmãos – o que significa que ele realmente sabia que Tiago era irmão mesmo, e não um “primo” de Jesus (veja todas as citações no artigo em questão).
 
Isso deixa a apologética católica em apuros, pois justamente aquele que é considerado um dos maiores historiadores da história e que é a testemunha secular mais próxima dos acontecimentos (precedendo em séculos os primeiros Pais da Igreja a sustentar a teoria dos primos) é uma prova contundente de que Tiago era, de fato, irmão de Jesus – como tudo na Bíblia e na história apontam. Como Dave responde a um argumento histórico tão forte como este? Basicamente, desprezando Josefo e subestimando o peso da evidência, que é tudo o que ele pode fazer. Ele escreve:
 
Bem, esta é a falha fundamental em seu argumento. Por que ele quer confiar em um historiador judeu romano, quando se trata de questões de doutrina cristã? Josefo, não sendo um cristão, obviamente não aceitaria nem mesmo o nascimento virginal de Jesus, muito menos uma proposta de virgindade perpétua de Maria.
 
Note como Dave astutamente muda o foco da discussão, como lhe é de costume, para argumentar que Josefo nunca aceitaria uma “proposta de virgindade perpétua de Maria”, por não ser cristão. Não sei se é falta de honestidade ou de capacidade de raciocínio, mas é óbvio que Josefo não precisava ser cristão para dizer que Tiago era primo de Jesus, se ele realmente fosse um. É preciso um milagre para que uma virgem engravide, mas não é preciso um milagre para que uma mulher que já teve um filho não tenha mais filhos (como todas as mulheres com filho único sabem bem). Por isso é simplesmente burrice colocar lado a lado o nascimento virginal (i.e, um milagre) com a quantidade de outros filhos que Maria teve ou não (que não é um milagre, mas algo natural).
 
Em outras palavras, mesmo que Josefo não cresse no nascimento virginal (por ser uma questão de fé, e não algo que pudesse ser comprovado ou refutado historicamente), isso em nada muda o fato de que ele sabia que Tiago era irmão de Jesus, algo que qualquer pessoa que vivesse naquela época e lugar estaria apta para saber bem. Devemos lembrar que Josefo e Tiago eram contemporâneos e viviam no mesmo lugar (Jerusalém), onde sabemos que Tiago era bispo (não à toa, é ele quem preside o Concílio de Jerusalém de Atos 15, e sempre que Tiago é mencionado na Bíblia, ele se encontra em Jerusalém).
 
Qual é a chance de que o maior historiador judeu de todos os tempos não conhecesse o grau de parentesco que um contemporâneo seu e líder da igreja de Jerusalém tinha com Jesus, quando ele vivia em Jerusalém e sabia muito bem quem era Jesus? A própria hipótese chega a ser ridícula. Poderíamos discutir se Josefo tivesse vivido muitos séculos mais tarde ou mal soubesse quem era Jesus, ou se Tiago lhe fosse completamente estranho e ele tivesse apenas uma noção pequena e vaga do mesmo. Mas dadas as devidas circunstâncias, é simplesmente estúpido presumir que Josefo não conhecia Tiago, ou que conhecesse, mas não soubesse que ele era primo e não irmão de Jesus.
 
Cabe lembrar que, logo após a ascensão de Jesus, nada a menos que três mil judeus de Jerusalém se converteram à nova fé (At 2:41), e que, mesmo em Roma, quando Paulo chegou, se dizia que “por todo lugar há gente falando contra esta seita” (At 28:22). Até mesmo o rei Agripa, criado em Roma, estava perfeitamente ciente dos acontecimentos envolvendo Jesus de Nazaré, como diz Paulo: “O rei está familiarizado com essas coisas, e lhe posso falar abertamente. Estou certo de que nada disso escapou do seu conhecimento, pois nada se passou num lugar qualquer” (At 26:26). Ou seja, a fé cristã já não era uma fé de um punhado de discípulos, mas tinha se expandido de tal maneira que não demorou a se tornar bastante popular e conhecida por todos na região, mesmo que a maioria permanecesse não-cristã.
 
Com isso em mente, voltemos à questão primordial: qual é a chance de que um historiador (que por função e definição é alguém que precisa estar inteirado dos acontecimentos) não conhecesse Tiago, que não somente era parente do fundador do Cristianismo, como também era um dos mais proeminentes líderes cristãos exatamente na mesma cidade em que vivia Josefo? É muito provável que ambos não apenas se conhecessem perfeitamente bem, mas que Tiago fosse uma figura célebre para os padrões da época, pelo menos em Jerusalém.
 
Isso é facilmente depreendido do relato de Eusébio em sua História Eclesiástica, onde Tiago é tratado como uma verdadeira celebridade entre os judeus de Jerusalém, a ponto de que “somente a ele era permitido entrar no santuário” (HE, Livro II, 23:6) e de todas as autoridades dos judeus (incluindo os fariseus e escribas) o chamarem de “O Justo” (HE, Livro II, 23:7) e lhe dizerem que “a ti todos obedecem” (HE, Livro II, 23:10). O próprio relato que Josefo faz do martírio de Tiago deixa subtendida a fama singular do mesmo, por ser o único mencionado nominalmente no texto em questão, apesar de outros também terem sido martirizados com ele[1].
 
Assim, não só Josefo, mas qualquer pessoa que vivesse em Jerusalém ou nas regiões vizinhas naquela época certamente conhecia Tiago, o qual era famoso por ser irmão de Jesus, fato notório e conhecido por todos (é por isso que o próprio Tiago evita se identificar como “irmão de Jesus” em sua carta, chamando-se apenas de “servo”, num gesto de humildade, como veremos mais adiante).
 
Para colocar de outra forma, Josefo não saber o grau de parentesco entre Tiago e Jesus seria o mesmo que um britânico nos dias de hoje não saber o grau de parentesco entre os príncipes Harry e William – o que ficaria ainda mais feio para um historiador. Dada a fama de Jesus e de Tiago, qualquer um naqueles dias, especialmente em Jerusalém, saberia perfeitamente se eles eram irmãos ou primos. Josefo também sabia, mas como o que ele escreveu vai na contramão do dogma católico, Dave prefere sacrificar a lógica, a história e o bom senso para ficar com o dogma. Daí o seu desespero em desqualificar Josefo a qualquer custo, o que não poderia ser mais digno de pena.
 
É importante que se diga que o mesmo Josefo que os papistas dizem que não pode ser usado como uma evidência histórica de que Tiago era irmão de Jesus é usado por eles quando o que está em jogo é a historicidade de Cristo, já que ele falou de Jesus assim como falou de Tiago (e, neste caso, eles consideram a evidência válida). Quando eu expus essa contradição gritante e descarada, que extenua o grau de cauterização da mente dos tendenciosos apologistas romanos, Dave respondeu da seguinte maneira:
 
Sim, porque essa é uma questão histórica, não teológica/doutrinária, então ele [Josefo] é muito útil.
 
Ou seja, Josefo é “útil” para provar que Jesus existiu porque falou de Jesus, mas não é “útil” para provar que Tiago era irmão de Jesus por ter falado que Tiago era irmão de Jesus. Perceba o grau do cinismo e da dissimulação aqui, que saltam aos olhos de qualquer pessoa com um pouco de bom senso. Em ambos os casos, Josefo faz uma afirmação de cunho histórico, mas como no segundo essa afirmação histórica conflita com um dogma papista criado muitos séculos mais tarde, ele não pode mais ser usado como fonte histórica!
 
Talvez Dave não tenha se dado conta, mas a discussão a respeito de Maria ter tido outros filhos é sim de cunho histórico, não somente teológico. Se as pessoas que viveram na época atestaram que Tiago era irmão de Jesus, é impossível e absurdo que isso não possa ser usado como uma evidência que influencia sobre o nosso ponto de vista teológico. Em outras palavras, Josefo realmente não era teólogo nem estava falando de um ponto de vista “teológico”, mas ele fez uma afirmação histórica que, por sua vez, possui implicações teológicas impossíveis de se negar.
 
Note como este é um caso diferente de, por exemplo, uma doutrina de natureza mais abstrata (no sentido de algo não-tangível, que se encontra apenas no campo das ideias), como a da justificação pela fé. Se Josefo tivesse dito que a salvação é pela fé, e não pela fé + obras (o que ele nunca diria, já que nem era cristão para entrar em polêmicas puramente teológicas como essa), poderíamos dispensar essa opinião, justamente por ser de um não-cristão com pouco ou nenhum conhecimento bíblico. Mas dizer que Tiago era irmão de Jesus está longe de ser uma doutrina abstrata: é simplesmente um fato tangível e concreto, que podia ser constatado e verificado por qualquer pessoa viva na época – e justamente por isso que Josefo, como historiador, fez essa observação.
 
Na verdade, foi Roma quem transformou a questão da “virgindade perpétua de Maria” num dogma, e, a partir daí, qualquer afirmação de caráter histórico teria que passar necessariamente pelo filtro “teológico” – mesmo que questões de parentesco sejam essencialmente de cunho histórico e não teológico, e que nenhum papista transforme numa doutrina ou num dogma de fé o grau de parentesco de qualquer outra pessoa na Bíblia. Não, Josefo não falou de uma “questão histórica” sobre Jesus e de uma “questão teológica” sobre Tiago. Ele não estava preocupado com teologia. Ambas as afirmações foram de cunho histórico, mas romanistas como Dave não querem aceitar a segunda, por conflitar com a teologia que eles mesmos criaram. Este é todo o cerne da questão, que Dave prefere fugir e se fingir de desentendido.
 
 
Aqui Lucas está “exigindo” que Josefo seja um comentarista objetivo sobre a questão de um milagre cristão (o nascimento virginal) e uma doutrina exclusivamente cristã (contra a judaica) da condição de Maria como sempre virgem.
 
Ninguém aqui falou sobre o nascimento virginal (o qual não é nem mesmo citado no artigo que Dave comenta), mas como ele não pode passar um artigo inteiro sem atacar um espantalho, faz questão de dizer que eu “exijo” que Josefo defenda «o milagre cristão do nascimento virginal». Isso já foi explicado mais acima: o nascimento virginal é um milagre, e não devemos exigir que um não-cristão acredite em um. Mas não ter tido mais filhos não é um milagre, então, é perfeitamente plausível que Josefo diga que Tiago era irmão de Jesus, assim como seria perfeitamente plausível se ele dissesse que eram primos. Para colocar de outra maneira: Josefo não estava com o anjo Gabriel para saber se Maria engravidou de José ou pelo Espírito Santo, mas ele conviveu com Tiago, que sabia ser irmão de Jesus. Por isso a primeira questão é de fé, e a segunda é perfeitamente histórica, sim senhor.
 
Josefo não estava preocupado se Maria foi “sempre virgem” ou não. Em sua época, sequer havia tal discussão (os primeiros Pais a afirmarem tal coisa só surgiriam dali a dois séculos, como Bruno Lima mostrou aqui e aqui). Mas ele estava em condições de saber se Tiago era irmão de Jesus ou não, sem que estivesse minimamente preocupado se essa constatação colocaria em xeque um dogma que só surgiria séculos mais tarde. Como Dave não compreende isso (ou compreende, mas se faz de bobo), tenta passar a ideia de que Josefo só chamou Tiago de irmão de Jesus porque rejeitava a doutrina católica da virgindade perpétua, como se Josefo fosse mentir de propósito para não ter de reconhecer um dogma que só foi criado séculos depois. Parece ridículo, porque é ridículo.
 
Ademais, Josefo poderia tranquilamente ter dito que Tiago era primo de Jesus, sem que isso tivesse qualquer coisa a ver com a “virgindade perpétua”. As pessoas tem primos, e Jesus também tinha os seus. Josefo não estava a par de qualquer discussão sobre “irmãos ou primos”, mesmo porque ela não existia em seu tempo. Ele apenas narrou o que sabia, o que já é suficiente para Dave descartá-lo (mas seria o primeiro a usar seu testemunho se tivesse dito que era primo). Josefo poderia descrer no nascimento virginal e pensar que Jesus nasceu da relação sexual normal entre José e Maria, e mesmo assim saber que eles não tiveram mais filhos depois disso e que esses parentes de Jesus eram todos primos.
 
Em outras palavras, o fato dele descrer no nascimento virginal e na virgindade perpétua não implica que tivesse que mentir sobre o grau de parentesco de Tiago, já que Maria poderia ter tido só um filho, e mesmo assim não ser virgem. Quando Dave mistura uma coisa com a outra, o que ele está querendo dizer na verdade é que Josefo mentiu porque ele não aceitava a virgindade perpétua, quando essa mentira não seria nem mesmo necessária, já que mesmo se tivesse dito que eram primos isso ainda não faria de Maria “sempre virgem”. Mas como a lógica tragicamente não é o ponto forte de Dave, ele insiste nessas explicações esdrúxulas de dar pena.
 
 
Ele pode ficar do lado de Lucas e dos protestantes na questão dos “irmãos de Jesus”, mas não em relação ao nascimento virginal, ao qual eles aderem plenamente conosco.
 
Dave volta a repetir sua pobre defesa de que, se Josefo nega o nascimento virginal (o que ele nunca o fez expressamente, mas é presumível, dado que não era cristão), então ele também não serve para falar dos irmãos de Jesus, como se as duas coisas estivessem no mesmo nível (o que já foi refutado acima). Ou Josefo concorda com tudo o que os cristãos afirmam, ou ele não pode ser usado como fonte. Curiosamente, o mesmo Dave usa fontes históricas protestantes para afirmar, por exemplo, que Calvino mandou matar Serveto em Genebra, mesmo sem concordar com tudo o que essas fontes acreditam teologicamente (senão não poderia usar fontes protestantes sem ser protestante).
 
Ao que parece, Dave pode usar fontes não-católicas e até não-cristãs (como faz ao citar historiadores ateus como Will Durant) sem que isso comprometa o seu catolicismo, mas eu não posso usar uma fonte não-cristã como Josefo, senão sou obrigado a concordar com todas as crenças dele. Isso tem um nome: cinismo. É lógico que ninguém é obrigado a concordar com todas as crenças de Josefo por citá-lo, assim como não é obrigado a concordar com as crenças de quem quer que cite. É preciso saber separar o que uma pessoa acredita do que ela testemunhou. Se uma testemunha num tribunal diz que viu fulano matar beltrano, seu testemunho tem um peso a despeito de ser o maior herege do mundo. Da mesma forma, Josefo testemunhou que Tiago era irmão de Jesus, mesmo que não acreditasse nas doutrinas cristãs. Mais claro que isso, só desenhando.
 
 
Então, por que Lucas apelaria para ele, em oposição à fonte que apresentarei: o judeu convertido e historiador cristão Hegésipo (c. 110-180), que, de acordo com São Jerônimo, “escreveu uma história de todos os eventos eclesiásticos da paixão de nosso Senhor até seu próprio período... em cinco volumes”? Isso foi chamado de Hypomnemata. (...) Se um historiador cristão primitivo como Hegésipo contradiz o que Josefo diz sobre Tiago, devemos seguir seu exemplo (dada uma escolha de mão dupla).
 
E quem disse que Hegésipo se opõe a Josefo? Em nenhum lugar ele chama Tiago de primo de Jesus; pelo contrário, chama de irmão, exatamente como Josefo (veremos mais sobre isso um pouco adiante). Ademais, diferente do que Dave argumenta, Josefo é uma fonte obviamente mais pesada do que Hegésipo no caso em questão. Hegésipo viveu cerca de um século após Josefo, o que significa que Josefo está mais próximo dos acontecimentos e, portanto, é uma fonte mais confiável em se tratando de um testemunho histórico do qual ele era contemporâneo, e Hegésipo não. Quanto mais próxima uma fonte está do evento que narra, maior o grau de confiabilidade (e quanto mais distante menor, já que se torna mais fácil de ser influenciado por tradições corrompidas). Isso é o bê-á-bá da historiografia, e me impressiona que Dave ignore o princípio (mesmo sem ser historiador).
 
Para usar uma linguagem mais técnica, Josefo é uma fonte primária, por ser contemporâneo aos acontecimentos, enquanto Hegésipo é no máximo uma boa fonte, por não ser tão tardio quanto outros Pais, mas ainda assim não está no mesmo patamar que Josefo quando o que está em jogo é um testemunho histórico (e não a interpretação de um versículo ou outro, que é do âmbito da teologia). Ele pode ter recebido boas tradições, mas não recebeu nada em primeira-mão, nem jamais conheceu apóstolo algum. Ele escreveu baseado no que ouviu falar de outras pessoas que também ouviram falar de outras pessoas que por sua vez podem ter conhecido Tiago, enquanto Josefo provavelmente conhecia Tiago pessoalmente (Jerusalém não era na época uma cidade de centenas de milhares de habitantes como é hoje, mas muito menor).
 
É impossível uma mente honesta não perceber a primazia do testemunho de Josefo sobre o de Hegésipo, no que se refere a um testemunho histórico. Caso diferente seria, por exemplo, se ambos opinassem (“opinar” ou “interpretar” é diferente de “testemunhar”) sobre um tema teológico como a imortalidade da alma, por exemplo (algo que nenhum dos dois estaria na condição de “testemunha”; estariam apenas argumentando baseado nas suas visões teológicas), onde a primazia teria que ser dada ao cristão e não ao não-cristão (o que não significa que o cristão estaria necessariamente certo, mas sua opinião teria um peso evidentemente maior que a de quem nem cristão é).
 
Como Dave não entende a diferença entre uma coisa e outra, ele coloca tudo no mesmo pacote, como se a opinião do cristão fosse sempre superior só por ser cristão, mesmo quando o tema em pauta é essencialmente histórico (se fosse assim, seria inútil citar qualquer historiador ou autor secular em qualquer obra ou em apoio a qualquer coisa). Se alguém testemunhou um assassinato, mesmo se não for cristão, ainda assim tem um peso maior sobre isso do que alguém que é cristão, mas não testemunhou nada e se baseia apenas em sua própria opinião ou no que ouviu de terceiros (caso diferente seria se os dois estivessem apenas discutindo a interpretação de um texto bíblico, por exemplo). Dave tenta sorrateiramente misturar uma coisa com a outra, numa tentativa vã e inútil de anular o testemunho flaviano.
 
Mesmo assim, isso não significa que Hegésipo estivesse necessariamente errado, e muito menos que ele concordasse com a tese papista dos “primos”, que só surge nos tempos de Jerônimo, mais de dois séculos mais tarde. O que Dave vai tentar fazer é distorcer e manipular as palavras de Hegésipo, torcendo os textos de tal forma que se compatibilizem à tese papista, sem que Hegésipo jamais a tenha afirmado (não é muito diferente do que Dave faz com a Bíblia, afinal).
 
 
A confiança de Lucas em Josefo com relação ao assunto em questão me lembra do protestante voltando-se para os judeus pós-cristãos com relação ao cânon bíblico, porque eles rejeitaram os livros deuterocanônicos, enquanto os primeiros cristãos os incluíram na Bíblia. Se se trata de refutar os católicos, qualquer “testemunha” é boa o suficiente para se alistar. Eles seguirão a opinião dos judeus religiosos em vez dos primeiros cristãos, se necessário.
 
Mais uma mentira, já que os primeiros cristãos não incluíram os apócrifos (“deuterocanônicos”) em Bíblia nenhuma. Eu já abordei isso extensivamente aqui e aqui, com dúzias de citações extraídas diretamente dos Pais da Igreja que ele considera serem bons católicos romanos. Mas o que é uma mentira a mais para alguém que já é profissional no assunto?
 
 
Lucas afirma em seu artigo que Josefo chama Tiago de “irmão” do Senhor várias vezes e também frequentemente distingue entre “irmão” e “primo” e usa uma palavra diferente para o último. Lucas conclui assim que Josefo deveria achar que Tiago era um irmão literal de Jesus. Ele provavelmente achava, como um não-cristão. Nesse caso, ele estava simplesmente errado. Ele pensava como os protestantes de hoje (não os primeiros!): ele viu “irmão” e assumiu erroneamente que isso sempre significa irmãos. Não vejo como ou por que seu testemunho deva ser considerado convincente, ou “prova irrefutável”: como as palavras de Lucas no título de seu artigo afirmaram com excesso de confiança.
 
Claro, Josefo (contemporâneo de Tiago) estava errado; quem está certo é Dave, escrevendo com apenas vinte séculos de atraso. Faz todo o sentido. Como também faz todo sentido supor que ele apenas viu a palavra “irmão” e «assumiu erroneamente que isso sempre significa irmãos», quando Josefo era judeu e Dave exaustivamente argumenta que todo judeu sabia que a palavra “irmão” poderia significar “primo” (é justamente este o pretexto que eles utilizam para impor o significado de “primo” onde consta “irmão” nos evangelhos). Ou seja, ao que parece, até Josefo foi “enganado”, mesmo sendo um judeu nascido em Jerusalém de uma família de sacerdotes (e ainda por cima, historiador!).
 
Se nem mesmo um judeu dos mais eruditos daquela época sabia que “irmão não significava irmão mesmo”, por que raios teriam os autores do NT se referido aos irmãos de Jesus como irmãos e não como primos (ainda mais quando tinham à sua disposição uma palavra que significava exatamente primos)? Para confundir mais gente ainda? Note a gravidade da conclusão que Dave é obrigado a chegar para salvar o dogma católico: nem mesmo um judeu como Josefo tinha a capacidade de distinguir irmão e primo, mas mesmo assim os evangelistas fizeram questão de se referir aos irmãos de Jesus sempre como irmãos, e nunca como primos, mesmo quando escreviam em grego e a um público não-judeu (que não estaria familiarizado com a gramática e os costumes hebraicos). É como se eles realmente quisessem confundir seus leitores, ou no mínimo não se importassem nem um pouco com isso (apesar de ser um dogma importantíssimo e intocável para Roma). Pavoroso, como tudo na apologética católica...

E, mais uma vez, considerando a fama de Tiago e o fato de ambos serem contemporâneos e conterrâneos, Josefo presumivelmente conhecia Tiago muito bem, o suficiente para não depender de escritos de terceiros (como os evangelhos) para determinar o grau de parentesco entre ele e Jesus. Como já apontado, Tiago era uma figura célebre em Jerusalém, de modo que todos ali sabiam perfeitamente se ele era irmão ou primo de Jesus – incluindo Josefo. Não é como se Tiago fosse uma figura obscura e Josefo dependesse de um ou outro escrito onde não fica claro o seu parentesco com Jesus, e então arriscasse que era irmão quando na verdade era primo. 
 
 
Como Dave deturpa criminosamente Hegésipo
 
No artigo, Dave prossegue com a distorção de textos bíblicos para transformar os irmãos de Jesus em primos, com todas aquelas manobras que já conhecemos muitíssimo bem e que eu dispenso comentar neste artigo porque já foram exaustivamente refutadas aqui, aqui e aqui. Voltemos então ao único autor dos primeiros séculos que Dave se apega para sustentar a teoria dos primos: Hegésipo. Ele escreve:
 
Aqui é onde a evidência de Hegésipo é muito útil e une tudo isso perfeitamente, e corrobora o relato das Escrituras e a teoria dos “primos”. Eusébio, em sua História da Igreja, documenta suas palavras da seguinte forma:
 
“Após o martírio de Tiago e a conquista de Jerusalém que se seguiu imediatamente, diz-se que os apóstolos e discípulos do Senhor que ainda estavam vivos se reuniram de todas as direções com aqueles que estavam relacionados ao Senhor segundo a carne (porque a maioria deles também estava viva) para se aconselharem sobre quem era digno de suceder a Tiago. Todos eles com um consentimento pronunciaram Simeão, filho de Clopas, de quem o evangelho também faz menção; para ser digno do trono episcopal daquela paróquia. Ele era primo, como dizem, do Salvador. Pois Hegésipo registra que Clopas era irmão de José” (Livro III, seção 11, partes 1-2; traduzido por Arthur Cushman McGiffert. De Nicene and Post-Nicene Fathers, Second Series, Vol. 1.  Editado por Philip Schaff e Henry Wace [1890], pp. 123- 124. Na versão traduzida por GA Williamson, Baltimore: Penguin Books, 1965; cf.  Livro III, seção 32, parte 4: “Maria, esposa de Clopas, pai de Simeão” e Livro III, seção 32, parte 1: “Simeão, filho de Clopas”)
 
Note que o texto em questão apenas diz que este Simeão era filho de Clopas, o qual seria irmão de José, mas não diz o que os papistas mais precisavam que fosse dito: que ele era um daqueles que a Bíblia chama de irmãos de Jesus. Dave simplesmente presume isso por pensar que esse Simeão tenha sido o mesmo Simão citado numa lista de irmãos de Jesus junto com outros três nomes em Marcos 6:3, mas há absolutamente zero evidência de que o Simão citado neste texto seja o mesmo filho de Clopas citado no outro texto, e muito menos que este fosse o entendimento de Hegésipo. 

Basta fazer uma busca por “Simão” ou “Simeão” no NT e ver a quantidade de indivíduos com esse mesmo nome, numa época em que era muito mais comum as pessoas terem nomes homônimos (entre os 12 discípulos haviam dois "Judas", dois "Tiago" e dois "Simão", só para exemplificar). Inclusive há chances de que este Simão primo de Jesus fosse justamente o Simão apóstolo, apelidado de "zelota" (para distinguir do outro Simão, Pedro), com vários sites católicos defendendo essa teoria (veja alguns exemplos aqui, aqui e aqui), inclusive um do próprio Vaticano (veja aqui). A Enciclopédia Católica, no verbete de Simão zelota, diz que ele é identificado na Chronicon Paschale como o filho de Clopas e primo de Jesus (veja aqui).
 
Dave perde mais uma oportunidade de citar algum texto que claramente associe o Simeão citado como primo de Jesus com o Simão de Marcos 6:3 quando menciona uma outra passagem de Hegésipo que nada acrescenta de novo:
 
O mesmo autor [Hegésipo, citado na parte 1] também descreve o início das heresias que surgiram em seu tempo, nas seguintes palavras: “E depois que Tiago, o Justo, sofreu o martírio, como o Senhor também havia sofrido, Simeão, filho do tio do Senhor, Clopas, foi nomeado o próximo bispo. Todos o propuseram como segundo bispo porque era primo do Senhor” (Livro IV, seção 22, parte 4; tradução de Williamson, p. 181)
 
Mais uma vez, o texto apenas diz que este Simeão filho de Clopas era primo de Jesus, mas não diz que este é o mesmo Simão citado como irmão de Jesus em Marcos 6:3. Aparentemente, na pequena cabeça de Dave, a lógica que prevalece é que se você tem um primo com um nome, automaticamente significa que você não pode ter um irmão com o mesmo nome. Ele literalmente pega um texto que diz que Jesus tinha um primo chamado Simeão, e daí já conclui que ele não pode ter tido um irmão com o mesmo nome (ou com uma variante do mesmo nome). E depois sou eu que tenho “excesso de confiança”!
 
Como Dave sabe que não tem nenhum texto de Hegésipo onde o mesmo diga que Maria foi “sempre virgem” ou que os irmãos de Jesus em Marcos 6:3 e em todos os outros textos eram primos, ele recorre à sua manobra mais rotineira: a distorção pura, grosseira e escandalosa dos textos. Observe o que ele escreve abaixo (o negrito é por minha conta) e compare com o que o texto que ele cita realmente afirma:
 
Hegésipo indiscutivelmente também alude a Judas como sendo primo de Jesus também: “O mesmo historiador [Hegésipo] diz que também houve outros, descendentes de um dos chamados irmãos do Salvador, cujo nome era Judas... (Livro III, seção 32, parte 5; tradução de McGiffert; Williamson traduz: “um dos 'irmãos' do Salvador chamado Judas...”: p. 143; enquanto Christian Frederick Cruse (1850) traduz a passagem sobre este Judas: “um daqueles considerados irmãos do Senhor”).
 
A manobra aqui é de tão baixo nível que é realmente difícil de imaginar que alguém com uma mente um pouco acima de um orangotango tenha mordido a isca: ele diz que Hegésipo «indiscutivelmente» alude a Judas como primo de Jesus, e então, quando você mais espera que ele vá citar esse tal texto bombástico onde Hegésipo afirma isso, você lê a citação que chama Judas de IRMÃO de Jesus! Só faltou ele fazer uma pausa dramática e dizer que você caiu na “pegadinha do Malandro”!
 
 
É realmente cômico que um “apologista” desse nível seja levado a sério (ainda que apenas pelos católicos), o qual tenta bisonhamente provar que o irmão de Jesus era um primo citando um texto onde ele é chamado de... irmão. Patético, constrangedor, hilário, vergonhoso...
 
Vejamos outras citações de Hegésipo, ainda mais claras (que Dave dessa vez prefere omitir, em vez de citá-las a seu favor também e tentar dar um jeito de transformar irmão em primo):
 
“Da família do Senhor viviam ainda os netos de Judas, seu irmão segundo a carne, aos quais delataram por serem da família de Davi. O evocatus conduziu-os à presença do césar Domiciano, porque este, assim como Herodes, temia a vinda de Cristo” (História Eclesiástica, Livro III, 20:1)
 
"Sucessor na direção da Igreja é, junto com os apóstolos, Tiago, o irmão do Senhor. Todos dão-lhe o sobrenome de ‘Justo’, desde os tempos do Senhor até os nossos, pois eram muitos os que se chamavam Tiago” (História Eclesiástica, Livro II, 23:4)
 
É curioso que Hegésipo use o termo anepsios com frequência (inclusive no texto em que diz que Jesus tinha um primo chamado Simeão), mas, ao falar dos irmãos de Jesus, ele use adelphos, o termo grego que se refere à irmão mesmo (e não a um mero “irmão na fé”, mas a um «irmão segundo a carne», como ele explicitamente afirma). Mas ele deve ter sido mais uma das muitas pessoas “enganadas” segundo a lógica de Dave Armstrong, que pensa que até mesmo Josefo “se enganou” por não saber distinguir irmão e primo...
 
Não à toa, entre os estudiosos sérios (e não entre propagandistas palpiteiros com muito tempo livre), Hegésipo é sempre citado como uma evidência contra o dogma da virgindade perpétua, e não a favor. Como comenta o erudito Ben Witherington, autor de mais de trinta livros sobre o Jesus histórico, “é interessante como o escritor cristão do século II, Hegésipo, faz distinção entre aqueles que eram primos de Jesus (anepsios) e Tiago e Judas, que são chamados de irmãos (adelphos) de Jesus”[2].
 
Mesmo aqueles que defendem a virgindade perpétua tendem a reconhecer que Hegésipo é um problema, embora tentem contornar o fato com explicações superficiais. Este site ortodoxo, por exemplo, em um artigo em que defende a virgindade perpétua, cataloga Hegésipo entre as evidências contrárias ao dogma e se defende alegando que “tal testemunho não está livre de problemas e possíveis autocontradições” (em vez de dizer que Hegésipo era na verdade a favor do dogma). A própria Enciclopédia Católica diz que “embora Tertuliano, Helvídio e possivelmente Hegésipo contestassem a virgindade perpétua de Maria, seus contemporâneos mais ortodoxos a afirmaram" (veja aqui).

Até mesmo a teóloga católica Rosemary Radford Ruether reconhece:
 
"Sua frase «seu irmão segundo a carne» decisivamente aponta para a tradição de Jerusalém que esses irmãos eram conhecidos como os irmãos de Jesus"[3]
 
E, pasme, até mesmo o padre e estudioso católico norte-americano John P. Meier escreveu:
 
"No século II, por exemplo, Hegésipo, um convertido do Judaísmo, provavelmente vindo da Palestina, parece ter considerado os irmãos e irmãs de Jesus como sendo verdadeiros irmãos, distintos dos primos e tios que Hegésipo também menciona"[4]
 
Veja como até mesmo um padre católico reconhece que Hegésipo via os irmãos de Jesus como irmãos mesmo e não como primos, mas Dave quer convencer seus leitores ludibriados e desinformados do contrário, baseado em puro achismo e indução ao erro. Essa é a diferença entre um estudioso católico sério e um panfletário mais preocupado em como distorcer os fatos para usá-los a seu favor.
 
 
A Escritura também fornece um pouco mais de evidência indireta sobre Judas. Se este é o mesmo Judas que escreveu a epístola com esse nome (como muitos pensam), ele se autodenomina “servo de Jesus Cristo e irmão de Tiago” (Judas 1:1). Agora, suponha por um momento que ele fosse o irmão de sangue de Jesus. Nesse caso, ele se absteve de referir-se a si mesmo como o próprio irmão do Senhor (embora seja dito que tal fraseologia ocorre várias vezes no Novo Testamento, referindo-se a um relacionamento entre irmãos) e escolheu, em vez disso, identificar-se como o irmão de Tiago. Isso é muito estranho e implausível para acreditar.
 
É realmente “estranho” e “implausível”, para quem não está minimamente familiarizado com a linguagem bíblica. Todos os personagens bíblicos mais aclamados faziam questão de se referir a si mesmos como servos, em vez de usar os títulos de honra que eles poderiam ter usado, se quisessem. Por exemplo, Davi poderia referir-se a si mesmo como o grande rei e líder de todo Israel, mas diz que “sou teu servo, sim, sou teu servo, filho da tua serva” (Sl 116:16). Maria poderia ter se gabado por ter sido escolhida para dar à luz ao salvador, mas diz que Deus “atentou para a baixeza da sua serva(Lc 1:48).
 
Dave acredita que Pedro era papa – o “príncipe dos apóstolos”, líder supremo e infalível de todos os cristãos –, mas ele se refere a si mesmo apenas como servo e apóstolo de Jesus Cristo” (2Pe 1:1), e mesmo quando escreve aos presbíteros, ele não escreve na qualidade de um superior hierárquico, mas diz que “apelo para os presbíteros que há entre vocês, e o faço na qualidade de presbítero como eles(1Pe 5:1). João, no Apocalipse, não se chama nem mesmo de apóstolo, mas só de “servo”: “Ele enviou o seu anjo para torná-la conhecida ao seu servo João” (Ap 1:1). E com todos esses exemplos, Dave ainda acha “estranho e implausível” que Tiago se chamasse de servo e não de irmão de Jesus – e depois não gosta quando dizemos que ele não conhece a Bíblia (exceto o punhado de textos isolados que ele cita aleatoriamente independentemente do assunto ou do contexto, para mostrar que leu alguma coisa).
 
 
Além disso, Tiago também se abstém de chamar a si mesmo de irmão de Jesus, em sua epístola (Tiago 1:1: “servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo”): embora São Paulo o chame de “irmão do Senhor” (Gl 1: 19). Agora que vimos nas Sagradas Escrituras que Tiago é primo em primeiro grau de Jesus, segue-se que se Judas é seu irmão (assumindo que esse é o significado de Judas 1:1), então ele também é primo em primeiro grau de Jesus. 
 
Exato: os outros os chamam de irmãos de Jesus, não eles mesmos (não porque eles não fossem irmãos, mas para não soarem arrogantes ou pretensiosos ao se identificarem dessa forma com alguém que é Senhor deles). Por isso faz todo o sentido que Judas tenha preferido se identificar pela ligação mais fraca (Tiago, que estava no mesmo nível que ele) do que pela mais forte (Jesus, que não era apenas seu irmão, mas seu Deus). Agora, o que me impressiona é que Dave não use essa mesma lógica para achar igualmente “estranho e implausível” que nenhum deles se chamasse de “primo do Senhor” (ou mesmo o próprio termo “irmão”, já que para ele todas as vezes que alguém os chama de “irmão” quer dizer “primo” mesmo!).
 
Se Judas tinha que se identificar pela ligação mais forte, como Dave argumenta, essa ligação ainda seria com Jesus, mesmo se ele fosse seu primo. Embora Tiago fosse uma figura notória na Igreja primitiva, ele não se compara a Jesus, de modo que Judas deveria ser muito mais conhecido por ser primo de Jesus do que por ser irmão de Tiago. Mesmo assim, ele se recusa a se identificar pelo grau de parentesco com Cristo, preferindo se identificar apenas pelo parentesco com Tiago (o que corrobora minha afirmação de que ele fez isso por humildade). Eu diria que é surreal que Dave não entenda algo tão simples, mas depois de tanto tempo lendo tantas tolices, eu não me surpreendo com nada.
 
Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (youtube.com/LucasBanzoli)

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[1] Antiguidades Judaicas, Parte 1, Livro XX, 8.

[2] WITHERINGTON III, Ben; SHANKS, Hershel. The Brother of Jesus: The Dramatic Story & Meaning of the First Archaeological Link to Jesus & His Family. San Francisco: HarperOne, 2004, p. 95.

[3] Apud SVENDSEN, Eric. Who Is My Mother? New York: Calvary Press, 2001, p. 66.

[4] MEIER, John P. A Marginal Jew: Rethinking the Historical Jesus. Connecticut: Yale University Press, 2016, p. 360.

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19 comentários:

  1. Dave es un total deshonesto porque está acá de contexto a J. B. Lightfoot cuándo es el mismo erudito anglicano afirma "el testimonio de Hegesipo debe considerarse contrario a la posición de Jerónimo" además que J. B. Lightfoot en ningún momento está secundando la tesis que Alfeo y Cleofás sea la misma persona.

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    1. Sí, desafortunadamente es característico de los apologistas católicos abandonar cualquier pizca de honestidad cuando atacan al protestantismo.

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  2. Dave é completamente desonesto e eu quero fazer algumas observações.

    1. Dave ignora que J. B. Lightfoot é um adversário da tese de Jerome, mesmo reconhecendo a plausibilidade da tese de Helvidius e Epiphanius:

    "Em comparação com a visão de Jerônimo, tanto Epifânio quanto Helvidius" têm maiores pretensões de aceitação. Ambos atribuem à palavra irmãos seu significado natural; ambos reconhecem os principais fatos relativos aos irmãos do Senhor nos Evangelhos - sua descrença, sua distinção dos doze, sua relação com José e Maria - e ambos evitam as outras dificuldades que a teoria de Jerônimo cria. E, além disso, ambos apresentam uma coincidência que merece ser notada. Pouco antes da morte do Senhor, seus irmãos se recusam a aceitar sua missão: eles permanecem descrentes. Imediatamente após sua ascensão, nós os encontramos reunidos com os apóstolos, reconhecendo-o evidentemente como seu professor". [J. B. Lightfoot, St. Paul's Epistle to the Galatians (segunda edição, Londres e Cambridge, 1866) p. 258].

    2. J. B. Lightfoot assinala que o testemunho de Hegesippus é incompatível com a tese de Jerônimo (que é a tese que Dave está defendendo).

    "Hegesippus distingue entre a relação de Tiago, irmão do Senhor, e Simeão, seu primo (...) Assim, o testemunho de Hegesippus parece claramente oposto ao ponto de vista de Jerônimo". [J. B. Linghtfoot, D.D., St. Paul's Epistle to the Galatians (segunda edição, Londres e Cambridge, 1866) p. 269-270

    E não só, pode-se dizer que os estudiosos e críticos modernos de hoje unanimemente consideram o testemunho de Hegesipo incompatível com a tese de Jerônimo (exceto para estudiosos com sua crença preconcebida de que os irmãos de Jesus são "primos", que estão mais comprometidos em defender seus dogmas do que em fazer o trabalho de um historiador):

    "Hegesipo parece distinguir a relação com Jesus de Simeão, filho de Clopas, a quem ele chama de "primo do Senhor" da de Tiago e Judas, para quem ele usa a descrição tradicional de "irmão do Senhor" (...) As provas de Hegesipo devem ser consideradas contrárias ao ponto de vista de Jerônimo". [Jude e os Parentes de Jesus na Igreja Primitiva [Edimburgo: T&T Clark, 1990], 23-24].

    O teólogo católico, Armand Puig, também chega às mesmas conclusões:

    Hegesippus distingue claramente entre Tiago, o "irmão do Senhor" e Simeão "o primo do Senhor" (História Eclesiástica 4, 22, 4, texto onde o abjetivo "segundo" tem que ser relacionado à palavra "bispo" e não à palavra "primo"). Portanto, seguindo Hegesippus, autor do segundo século, os irmãos do Senhor dificilmente podem ser considerados seus primos". [Jesus. Uma biografia (Ediciones Destino 2004) p. 168-169]

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  3. 3. Dave ignora completamente estas palavras de J.B. Lightfoot:
    "Nenhum exemplo decisivo pode ser produzido de um escritor que tenha a opinião de Jerome, antes de ter sido proposto pelo próprio Jerome". [Epístola de São Paulo aos Gálatas (segunda edição, Londres e Cambridge, 1866) p. 253].
    4. Além disso, lembremos que os textos de Hegesipo foram resgatados por Eusébio, o que é de grande respeito que Eusébio, apesar de sua crença pessoal de que os irmãos de Jesus eram filhos de José de um casamento anterior, não manipulou ou distorceu o texto de Hegesipo para adequá-lo às suas crenças, algo pelo qual a humanidade será eternamente grata. Com base na sinceridade de Eusébio, ele não mostra nenhum texto de Hegesippus que contradiga a tese de Helvidius, pois Hegesippus aparentemente não tem interesse em dissuadir os leitores de que Jesus tinha irmãos. Mesmo assim, Eusébio acredita que os irmãos de Jesus são "irmãos no sentido jurídico", o que não é tão rebuscado quanto a tese que Dave procura defender. Portanto, uma leitura honesta de Hegesippus pode ser conciliada com a tese de Helvidius e, em segunda instância, com a tese de Epifânio (com a crença preconcebida na "virgindade perpétua de Maria", obviamente), já que a palavra "irmão" pode ser entendida num sentido natural ou legal. Onde quero chegar com isto? Bem, se houvesse algo nos escritos de Hegesipo que concluísse que os irmãos de Jesus eram "primos", Eusébio teria notado e registrado, no entanto, vemos exatamente o contrário, Eusébio não acreditava que Tiago fosse primo de Jesus (filho de Cléofas) assim como Simeão, cito Eusébio a respeito de Simeão:
    "Após o martírio de Tiago e a conquista de Jerusalém que se seguiu imediatamente, diz-se que os apóstolos e discípulos do Senhor que ainda viviam se reuniram de todas as partes com aqueles que estavam ligados ao Senhor segundo a carne (pois a maioria deles também ainda vivia) para consultar quem era digno de suceder a Tiago. Todos eles com um acordo pronunciado Simeão, o filho de Clopas, do qual também o Evangelho faz menção; ser digno do trono episcopal daquela paróquia. ELE ERA UM PRIMO, COMO DIZEM, DO SALVADOR. PARA HEGESIPHUS RECORDA QUE CLEOPHAS FOI IRMÃO DE JOSÉFIA (História Eclesiástica, livro I, capítulo 11).
    Veja que ele está usando Hegesippus como fonte, portanto, é óbvio que ao falar de James ele também está levando Hegesippus em consideração; sobre James ele ele diz:
    "Então, Tiago, a quem os antigos sobrenomeados Justos por causa da excelência de sua virtude, é registrado como o primeiro a ser nomeado bispo da igreja de Jerusalém. ESTE SANTIAGO FOI CHAMADO CRIADOR DO SENHOR BECAUSE SAU CONHECIDO COMO FILHO DE JOSÉ, e José deveria ser o pai de Cristo, porque a Virgem, sendo desposada com ele, foi encontrada grávida pelo Espírito Santo antes de eles se reunirem, Mateus 1:18 como mostra o relato dos Evangelhos sagrados. " (História Eclesiástica, Livro II, cap. 1)

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  4. Note que ele diz que Simeão é primo de Jesus porque é filho de Clopas e Tiago é irmão de Jesus porque é filho de José, e ele o faz tomando HEGESIPHUS como sua fonte. Eusébio desconhece completamente que Simeão e Tiago são irmãos e, portanto, primos de Jesus, o que refuta as reivindicações de Dave. Os comentários de Eusébio sobre Hegesippus se encaixam perfeitamente na tese de Helvidius e Epifânio, mas descartam totalmente a tese de Jerome (a tese que Dave está defendendo).
    Ou seja, o desacordo (antes do tratado de Jerônimo) nunca foi sobre a idéia de que Jesus tinha irmãos; a diferença era se esses irmãos de Jesus eram seus irmãos no sentido "natural (irmãos biológicos)" ou "legal (meio-irmãos)". Eusébio é o único comentário que temos sobre os textos de Hegesipo, e seus comentários revelam que os leitores cristãos depois de Hegesipo não concluiriam que Simeão e Tiago eram irmãos e filhos de Cleópas e, portanto, primos de Cristo. Repito novamente, os comentários de Eusébio sobre Hegesippus se encaixam perfeitamente na tese de Helvidius e Epifânio, mas excluem totalmente a tese de Jerônimo. Isto nos leva a concluir que a Hegesippus não apóia o que Dave afirma defender. De fato, a mesma Enciclopédia Católica afirma: "Além disso, embora escritores como Tertuliano, Hevidius e possivelmente Hegesippo tenham contestado a virgindade perpétua de Maria, seus contemporâneos mais ortodoxos a afirmaram. "(The Catholic Encyclopedia, vol. 15. 1913, p. 460).
    Link da fonte: https://www.newadvent.org/cathen/15459a.htm
    Dave perde seu tempo se tenta dar apoio histórico a sua teoria de que os irmãos de Jesus são "primos" desde que essa teoria foi inventada por Jerônimo no século IV, o historiador francês Pierre-Antonie Berhheim afirma: "Segundo (essa teoria), chamada Jerônimo por Jerônimo, que a inventou, os irmãos teriam sido primos de Jesus em primeiro lugar". [Tiago, Irmão de Jesus (Edições Noesis 1996. Tradução: John Bowde) 1996, p. 15].
    Aqui estão estes links. Este primeiro elo são os argumentos oferecidos em favor dos irmãos carnais de Jesus pelo renomado estudioso Philip Schaff.
    https://biblehub.com/commentaries/schaff/james/?fbclid=IwAR1gGnhR2d2mi3wGmkRKU-cUcXUiQt4UrtFYMnPG2stBhRgJCAI734SMamc
    Também é bom ler os argumentos oferecidos pelos estudiosos James Strong e John McClintock (se você sabe quem é James Strong, se você duvida, você saberá que sua contribuição deve ser levada em conta).
    https://www.internationalstandardbible.com/B/brethren-of-the-lord.html

    Bênçãos em Cristo.

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    1. Muito bom! Acrescentei a citação da Enciclopédia Católica ao artigo, se necessário for eu escrevo um outro artigo abordando esses outros pontos que você colocou muito bem. Bendiciones!

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  5. Lucas, você é um gênio!

    Você acabou de fazer algo que eu considero extraordinariamente difícil, infinitamente mais difícil do que vencer um debate contra alguém inteligente: vencer um debate contra um idiota.

    Os outros textos do Dave já eram ruins, mas sinceramente: eu nem sei o que eu responderia contra este texto do Dave!

    Não há o que responder, só o que lamentar. Sério: eu seria capaz de responder alguns dos disparates do Dave em outras ocasiões. Mas nada me vem a mente na hora que eu vejo a "exegese" que ele fez de Hegésipo. Seria como tentar explicar as cores a um daltônico: não haveria que eu poderia dizer para fazê-lo ter a mínima noção.

    Este texto do Dave está certamente entre uma das piores tentativas de se provar um dogma católico que eu já vi na vida! Logo no começo quando ele tenta invalidar a importância historiográfica de Josefo... Só aquilo já é demais! Aquilo por si só já colocaria em xeque toda a boa-fé do articulista.

    É uma mistura de ad hominem, com non sequitur, com viés de confirmação... Eu acho que nunca vi um sofisma tão grande condensado em tão pouco espaço.

    A deturpação do Texto de Hegésipo também foi criminosa, mas o que mais me chamou a tenção foi o conjunto da obra. Dave já não era muito bom de interpretação de texto mas esse último superou todos os outros. Acho que o problema aqui já não é ignorância. Eu já vi muita má fé na apologética católica. Já vi católicos dizendo que os judeus criam no Purgatório, já vi católico falando das fontes "primitivas" da assunção de Maria... Já vi católico fraudando textos pré-Nicenos forçando um bispado petrino de 30 anos em Roma. Mas esse do Dave superou minhas piores expectativas.

    Este texto nem chega a ter argumentos! Dave não sabe dialética básica: não sabe a diferença entre um argumento e uma afirmação avulsa, despropositada, tipo "vou no banheiro", ou "estou com fome".

    Se eu pudesse lhe dar um conselho, Lucas: Dave Armostrong não é burro. O problema aqui não é a ignorância dele. O problema aqui não é o fanatismo. Fanatismo pressupõe que ele realmente acredita no seu credo. Eu nem isto dispenso a ele. O problema aqui é má fé!

    Tenha isso em mente na sua próxima aula (eu nem chamaria de refutação o que você faz com ele: você está educando-o, não refutando).

    Ele está agindo de má fé. Lembre-se disso.

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    1. Tenho percebido isso também. O cara não se importa se o que ele diz é a coisa mais burra e disparatada do mundo; se servir para os seus propósitos, ele usa à vontade. Isso deve explicar por que a apologética católica no Brasil é uma porcaria tão grande: boa parte dela é apenas uma reprodução de papagaio das asneiras que esse senhor fala no exterior. Ele não tem a menor preocupação com a qualidade do argumento, o que importa é escrever muito e mal (e sobretudo, mentir o máximo possível sobre tudo o que der pra mentir). Em se tratando de teólogos sérios, mesmo de confissão católica, a gente às vezes vê concessões - por exemplo, gente que reconhece que Hegésipo não cria na virgindade perpétua, o que não é nada além do óbvio - mas com Dave tudo o que vemos é um apego apaixonado à mentira, como se até acreditasse nela.

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  6. Hello Lucas,

    I was wondering what you thought of this article?:

    https://www.researchgate.net/publication/228262408_The_Creation_of_Language_and_Language_without_Time_Metaphysics_and_Metapragmatics_in_Genesis_1

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    1. Hi Jesse, the article is too long for me to read it all, but I wrote something about it a while ago:

      http://www.lucasbanzoli.com/2018/07/como-as-origens-da-escrita-e-da-fala.html

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  7. Que bom que você voltou amigo Lucas! Já faz muito tempo que te acompanho.

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  8. PAZ DO SENHOR LUCAS, quanto tempo irmão kk Como vão as coisas?

    Me diga Bonzoli, vc já ouviu falar da juliana Cavalcanti? Ela é uma professora universitária de Historia e teologa ""cristã"" liberal, que segue uma linha parecida com a do Bart D. Ehrman.

    Além de herege e atacar a historicidade das escrituras ela grava videos com Ateus picaretas da laia do Antonio Miranda.

    Seria muito interressante vc escrever alguns artigos contraponde historicamente os argumentos dela, oq me diz?

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    1. Eu vou bem, e você? Não conheço essa professora aí, mas sobre esse tema eu já tenho essa live de 3h de duração:

      https://www.youtube.com/watch?v=MOysl0fIZwM&t

      E também vários artigos e livros tratando de historicidade da Bíblia, veracidade das Escrituras, arqueologia, etc. Dá uma olhada no tópico de "Artigos sobre veracidade da Bíblia" neste índice:

      http://www.lucasbanzoli.com/2015/07/artigos-sobre-existencia-de-deus.html

      Tem outros artigos no meu outro blog, mais direcionado sobre o tema:

      https://ateismorefutado.blogspot.com/

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    2. Estou bem também, graças a Deus. Muito Obrigado pelas indicações Lucas !!!

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  9. o dogma da virgindade perpétua de Maria encontra um problema sério: se Maria e José não consumaram seu matrimônio, então o casamento deles não foi perfeito, e isso definitivamente não é conveniente para a chamada Sagrada Família, modelo de casamento para os cristãos.
    Já naquela época o casamento tinha por finalidade unitiva e procriativa. De toda forma, ainda que por alguma razão os pais não quisessem ter filhos, deveriam ao menos consumar o matrimônio e, segundo falou o Espírito Santo por meio do apóstolo Paulo (1Co 7), os cônjuges deveriam se unir com bastante frequência para não serem tentados pelo inimigo.
    Com toda certeza Maria era uma mulher que pensava em ter filhos, pois não ter filhos, naquela época, era até vexatório para a mulher (cf. Lc 1.25).
    Mas, repito, além da questão dos filhos, que está bem clara nas Escrituras (Mt 13.55; Mc 6.3 etc.), a questão do matrimônio não consumado (e, portanto, imperfeito) na família modelo pesa bastante contra esse dogma.
    A questão da consumação é tão relevante que, na história do livro apócrifo de Tobias, lê-se que Tobias se casou com Sara e foi obrigado a consumar o matrimônio, mesmo sabendo dos riscos que corria, já que outros sete tinham morrido na noite de núpcias. Claro que a história fala da cura de Sara, mas para eles, se pudessem, viveriam de forma celibatária, embora casados.
    Fato é que, para os judeus e os primeiros cristãos, quem quisesse permanecer solteiro, que não se casasse (1Cor 7.8,9). Se casar, terá que se unir ao seu cônjuge por seu dever conjugal (1Co 7.3-5).

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    1. Muito bem apontado, essa observação em relação ao livro de Tobias foi bem oportuna!

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