Nota introdutória
Dave Armstrong é um famoso apologista tridentino norte-americano conhecido por passar o dia inteiro atacando os protestantes na internet em vez de arrumar um trabalho, aproveitando o seu imenso tempo livre para escrever infindáveis artigos que seus oponentes não terão tempo de responder até ganhá-los pelo cansaço e cantar vitória (não à toa, sempre fugiu de debates ao vivo, onde o oponente teria o mesmo tempo que ele e ele não teria como correr para o Google). Desde o início do ano criou uma verdadeira obsessão pela minha pessoa e escreveu mais de 50 artigos “against Lucas Banzoli” antes que eu respondesse qualquer coisa. Sempre com uma linguagem hostil e provocadora, apela ainda a calúnias e difamações típicas da apologética católica (tais como que eu sou “não-teísta” e que “nego a divindade de Cristo”).
Depois de passar meses quase implorando pela minha atenção decidi respondê-lo com artigos que refutam linha por linha os seus impropérios, e descobri que, quando refutado, ele responde a um texto de 30 páginas com artigos de 5 páginas onde repete tudo o que já foi refutado e ignora todos os argumentos mais fortes. É superficial, fraco e desqualificado que só continua sendo respondido porque fiz das respostas ao Dave o meu novo esporte favorito (e porque estes artigos serão compilados para um novo livro de respostas às acusações papistas mais comuns, e nada melhor do que demonstrá-las na prática com alguém que se gaba por ter mais de 4 mil artigos “refutando” o protestantismo).
(Você pode ver minhas outras refutações ao Dave neste índice)
***
No dia 9 de setembro, Dave
escreveu este
artigo onde tenta refutar este meu artigo
de 2015, onde listo uma série de razões
bíblicas por que Maria foi uma mulher santa, mas não imaculada como ensina
Roma. No artigo em questão, eu vou listando e refutando um a um os argumentos mais
comuns da apologética católica para dizer que Maria, diferentemente de todo o
gênero humano, foi a única pessoa que não pecou (além de não ter contraído o
pecado original).
Dave passa quase o artigo
inteiro dizendo que eu estou “atacando espantalhos” porque “nenhum documento
oficial da Igreja diz isso” (como se a Igreja realmente tivesse um compilado
oficial de argumentos que podem ser usados e que não podem ser usados em defesa
da imaculada conceição). Para ele, eu deveria “sempre
documentar de fontes eclesiásticas oficiais”, o que é bastante irônico,
já que quando Dave “refuta” os meus artigos (ou de qualquer outro apologista
protestante) ele não está refutando de “fontes eclesiásticas oficiais”, mas de
simples apologistas tais como ele.
Ou seja, ele pode refutar o que
os apologistas protestantes afirmam (mesmo sem ser de “documentos oficiais”),
mas nós não podemos refutar o que os apologistas católicos dizem, só o que é “oficial”.
Este é um pequeno exemplo de como funciona o mundo na cabeça de um hipócrita.
Em um dos pontos, ele diz: “nunca ouvi falar desse
argumento maluco” em relação a um
argumento extremamente popular na apologética católica brasileira, como se eu
tivesse a obrigação de refutar apenas os apologistas americanos, e me silenciar
a respeito dos daqui.
Em outro momento, eu refuto “um argumento usado pelo comediante Paulo Leitão em seu
programa famosíssimo na igualmente famosíssima TV Potiguar”, uma
ironia que qualquer um daqui entenderia. Mas como Dave afortunadamente não faz bulhufas
de ideia a respeito de quem foi Paulo Leitão (o mais famoso apologista católico
brasileiro, que antes de falecer havia se
declarado abertamente nazista), ele ridicularizou essa parte do artigo, dizendo
que eu literalmente citei um comediante como fonte para esse argumento. É isso
o que acontece quando você tenta refutar alguém de outro país sem fazer ideia
do que se passa no mesmo.
Mas o argumento que Dave aceitou
foi o de Maria como a “nova arca da aliança”, onde ele argumenta:
Aqui
estão as passagens bíblicas reais de onde essa noção foi extraída:
Lucas
1:35 – Disse-lhe o anjo: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do
Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; portanto, o filho que há de nascer será
chamado santo, Filho de Deus.
A
palavra grega para sombra é episkiasei, que
descreve uma nuvem brilhante e gloriosa. É usado com referência à nuvem da
transfiguração de Jesus (Mt 17:5; Mc 9:7; Lc 9:34) e também tem uma conexão com
a glória shekinah de Deus no Antigo Testamento (Êx 24:15-16, 40:34-38; 1Rs 8:10).
Maria é, portanto, com efeito, o novo templo e o santo dos santos, onde Deus
esteve presente de modo especial.
É curioso que o primeiro texto
citado por Dave, o seu grande carro-forte para provar que Maria era a arca da
aliança, é um texto que nem sequer menciona a arca da aliança! Talvez
Dave esteja numa disputa acirrada com Paulo Leitão para descobrir quem é o
melhor comediante, e até esteja se esforçando mais. Também é interessante notar
que nenhum dos três textos que ele cita do AT (Êx 24:15-16, 40:34-38 e 1Rs
8:10) menciona expressamente a arca. O primeiro texto, inclusive, é de antes
mesmo de Deus mandar Moisés construí-la. Se esses textos provam alguma coisa, é
que a shekinah não está necessariamente relacionada à arca (e
consequentemente, episkiasei também não).
Por falar em episkiasei, este
mesmo termo aparece no texto que fala da sombra de Pedro (At 5:15). Será que
isso significa que Pedro é «o novo templo e o santo dos santos»? Ou somente
prova que episkiasei nem sempre tem qualquer coisa a ver com a arca da
aliança, o templo e o santo dos santos? Se este é o caso, o que exige que
Lucas 1:35 tenha essa relação (ainda mais quando nenhum dos elementos é ali
mencionado)?
Ademais, note que Lucas 1:35 não
fala da “sombra de Maria”, como o texto que fala da sombra de Pedro. Tudo
o que o texto diz é que o Altíssimo cobriria Maria com a Sua sombra para que
o nascimento de Jesus fosse possível, já que ele não nasceria da conjunção
carnal como todos os seres humanos. Em outras palavras, trata-se de algo temporário
e com uma finalidade específica: a do nascimento de Cristo. Texto
nenhum da Bíblia diz que a “sombra” continuou repousando sobre Maria depois da
concepção de Jesus.
No grego, episkiasei está
no futuro do indicativo, não no aoristo, como se expressasse uma condição que
em Maria seria permanente. O próprio termo nunca volta a ser empregado em
relação a Maria em nenhuma das vezes que ela é citada na Bíblia. É como a “glória”
de Moisés, que era temporária e desvanecia (2Co 3:13). Este é um caso muito
diferente da arca, onde a presença de Deus se fazia permanentemente presente.
O incidente com Maria não é similar ao da arca, mas ao do próprio texto que
Dave cita em relação à transfiguração, onde lemos:
“Então
Pedro disse a Jesus: ‘Senhor, é bom estarmos aqui. Se quiseres, farei três
tendas: uma para ti, uma para Moisés e outra para Elias’. Enquanto ele ainda
estava falando, uma nuvem resplandecente os envolveu (episkiasei),
e dela saiu uma voz, que dizia: ‘Este é o meu Filho amado em quem me agrado.
Ouçam-no!’” (Mateus 17:4-5)
A nuvem os envolveu (i.e,
envolveu todos eles, não apenas Jesus), o que significa que envolveu Pedro
também. Mas nem por isso Dave acredita que Pedro é «o novo templo e o santo dos
santos», muito menos a arca da aliança. Claro, Dave pode argumentar que Pedro
não esteve permanentemente envolvido (episkiasei) pela nuvem, mas
só naquele momento. Mas este é o mesmo caso de Maria, o que só reforça que é
tão errado atribuir isso a ela quanto seria atribuir a Pedro. Assim, o próprio
texto que Dave cita em apoio à sua tese é o que serve para refutá-lo.
De
fato, as Escrituras traçam muitos paralelos entre Maria, a “arca da nova
aliança” e a arca da (velha) aliança:
Êxodo
40:34-35 – Então a nuvem cobriu a tenda da congregação, e a glória do Senhor
encheu o tabernáculo. E Moisés não podia entrar na tenda do encontro, porque a
nuvem pairava sobre ela, e a glória do Senhor enchia o tabernáculo. (cf. 1Rs 8:6-11)
A
tradução da Septuaginta grega usa a mesma palavra, episkiasei, nesta passagem.
Primeiro: o texto não fala nada de
Maria. Segundo: também não fala nada da arca. Terceiro: como vimos, o simples
uso de episkiasei não prova nada, já que ele também é usado em ocasiões
totalmente distintas para personagens que não são Maria (e nem a arca). Quarto:
diga não às drogas.
Há
pelo menos mais quatro paralelos diretos também:
2º Samuel
6:9 – E Davi temeu ao Senhor naquele dia; e ele disse: “Como pode a arca do
Senhor vir a mim?”
Lucas
1:43 – E por que me é dado isto, que a mãe do meu Senhor venha a mim?
Então é essa a metodologia de
Dave: ele pega um versículo num livro da Bíblia, junta com outro versículo em
um livro totalmente diferente e em um contexto completamente distinto, e tenta
forçar uma conexão entre ambos (só porque em ambos os casos aparece a expressão
“vir a mim”). Isso resume bem o nível da apologética católica como um todo. Em
vez de simplesmente admitirem que estão inventando doutrinas que não estão na
Bíblia, preferem apelar para um malabarismo bíblico desse tipo feito um palhaço
de circo, quando pensam que o verdadeiro palhaço é o leitor que bota fé numa artimanha
dessas. É essa a “biblical evidence for catholicism”.
Desnecessário seria dizer que,
usando essa mesma metodologia, qualquer um poderia encontrar o que quisesse na
Bíblia. Da mesma forma que Lucas 1:43 usa a expressão “vir a mim” em relação a
Maria, Êxodo 32:26 usa a expressão para todos os filhos de Levi:
“Pôs-se
em pé Moisés na porta do arraial e disse: Quem é do Senhor, venha a mim.
Então se ajuntaram a ele todos os filhos de Levi” (Êxodo 32:26)
Será que os levitas também são a
“arca da aliança”?
“Os
quais foram a Balaão, e lhe disseram: Assim diz Balaque, filho de Zipor:
Rogo-te que não te demores em vir a mim” (Números 22:16)
Será que Balaão também é a “arca
da aliança”?
“Disse,
pois, o filisteu a Davi: Sou eu algum cão, para tu vires a mim com paus?
E o filisteu pelos seus deuses amaldiçoou a Davi” (1º Samuel 17:43)
Será que Davi também é a “arca
da aliança”?
“Sucedeu,
porém, que, ouvindo Eliseu, homem de Deus, que o rei de Israel rasgara as suas
vestes, mandou dizer ao rei: Por que rasgaste as tuas vestes? Deixa-o vir a
mim, e saberá que há profeta em Israel” (2º Reis 5:8)
Será que o rei de Israel também
é a “arca da aliança”?
E o que dizer dos inúmeros
textos bíblicos onde Jesus usa a mesma expressão para si mesmo? Seria ele a “arca
da aliança” junto com Maria?
“E
no último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé, e clamou, dizendo: Se
alguém tem sede, venha a mim, e beba” (João 7:37)
“Venham
a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei
descanso” (Mateus 11:28)
“E
não quereis vir a mim para terdes vida” (João 5:40)
“Todo
o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o
lançarei fora” (João 6:37)
“E
dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome
cada dia a sua cruz, e siga-me” (Lucas 9:23)
“Então
disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim,
renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me” (Mateus
16:24)
“E
chamando a si a multidão, com os seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quiser vir
após mim, negue-se a si mesmo, e tome a sua cruz, e siga-me” (Marcos
8:34)
“Jesus,
porém, disse: Deixai os meninos, e não os estorveis de vir a mim; porque
dos tais é o reino dos céus” (Mateus 19:14)
“Ninguém
pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer; e eu o
ressuscitarei no último dia” (João 6:44)
“Mas
Jesus, chamando-os para si, disse: Deixai vir a mim os meninos, e não os
impeçais, porque dos tais é o reino de Deus” (Lucas 18:16)
“Jesus,
porém, vendo isto, indignou-se, e disse-lhes: Deixai vir os meninos a
mim, e não os impeçais; porque dos tais é o reino de Deus” (Marcos
10:14)
“E
dizia: Por isso eu vos disse que ninguém pode vir a mim, se por meu Pai
não lhe for concedido” (João 6:65)
A metodologia de Dave me lembra
muito o método dos preteristas, que pegam um texto no Apocalipse que fala de
uma “grande cidade”, juntam com qualquer texto aleatório do AT chamando Jerusalém
da mesma forma, ignoram todos os outros textos que falam de outras cidades
usando a mesma expressão e concluem que o autor só pode estar falando de
Jerusalém. Isso nem chega a ser uma “interpretação” da Bíblia, mas meramente uma
macaquice, um malabarismo empilhando textos.
E o pior é que Dave nem percebe
que o sentido de 2º Samuel 6:9 é totalmente antagônico ao de Lucas 1:43,
embora haja uma expressão semelhante. No texto de 2º Samuel, «como pode a arca
do Senhor vir a mim» não tem nada a ver com a arca literalmente vindo até
ele (como Maria, que literalmente veio até Isabel), até porque a
arca já estava com Davi. O ponto todo é que Davi devia transportar a arca para
outro lugar, porque ela havia sido a causa da morte de Uzá (2Sm 6:6-8). “Vir
para mim”, então, era um eufemismo para o ato de conseguir levar a arca
dali a outro lugar, como traduz a NVI com precisão:
“Davi
ficou contrariado porque o Senhor, em sua ira, havia fulminado Uzá. Até hoje
aquele lugar é chamado Perez-Uzá. Naquele dia, Davi teve medo do Senhor e se
perguntou: ‘Como vou conseguir levar a arca do Senhor?’. Por isso ele
desistiu de levar a arca do Senhor para a cidade de Davi. Em vez disso, levou-a
para a casa de Obede-Edom, de Gate” (2º Samuel 6:8-10)
Uma vez que o sentido de “vir
para mim” é totalmente diferente do sentido de Lucas 1:43, tentar encontrar
qualquer similaridade entre ambos os textos apenas pelo aparecimento de algumas
palavras em comum é mais do que uma exegese pobre: é um ato de desespero.
Mas Dave continua tentando
empilhar versículos, e os próximos que ele cita são esses:
2º Samuel
6:15 – Então Davi e toda a casa de Israel fizeram subir a arca do Senhor com
júbilo e ao som de trombetas.
Lucas
1:42 – E exclamou em alta voz: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o
fruto do teu ventre!”
Não é brincadeira: Dave
realmente acha que um versículo está totalmente conectado ao outro, e se Isabel
chama Maria de bendita entre as mulheres, só pode ser uma alusão à arca
carregada ao som de trombetas! É este o ponto que eles precisam chegar para “encontrar”
as doutrinas católicas na Bíblia. Eu até ia montar um compilado de versículos
muito mais próximos de 2º Samuel 6:15 do que Lucas 1:42, mas basicamente
qualquer versículo com a palavra “júbilo” ou “trombeta” servia, e eu seria
obrigado a citar uns quinhentos.
2º Crônicas 15:14, inclusive,
menciona tanto o júbilo quanto as trombetas, mas não serve, porque não está
falando de Maria. Apocalipse 11:15 menciona o som de trombetas seguido de uma «grande
voz», mas também não serve, porque não fala de Maria. Mas Lucas 1:42 – que não
menciona nem «júbilo» e nem «trombetas» – é um perfeito paralelo com 2º Samuel
6:15 na cabeça de Dave, porque menciona Maria, é claro. O critério para um
texto ser associado com outro não é a similaridade, mas a conveniência.
E por falar em conveniências...
2º Samuel
6:14-16 – E Davi dançou perante o Senhor com todas as suas forças; e Davi
estava cingido com um éfode de linho... O rei Davi saltando e dançando perante
o Senhor.
1º Crônicas
15:29 – E, chegando a arca da aliança do Senhor à cidade de Davi, Mical, filha
de Saul, olhou pela janela e viu o rei Davi dançando e se divertindo.
Lucas
1:44 – Pois eis que, quando a voz da tua saudação chegou aos meus ouvidos, a
criancinha saltou de alegria no meu ventre.
Dave pega dois textos que falam
de Davi dançando diante da arca, e vê neles uma relação com um texto que
não fala nada de “dançar” (eskirtēsen
significa apenas “saltar”; cf. #3769 de Strong). Embora a tradução que Dave
escolheu também fale de “saltar” em 2º Samuel 6:16, o hebraico usa somente um
verbo, karar, traduzido como “dançar” (#3769 de Strong). Então,
basicamente, qualquer texto que fale sobre “dançar” já seria mais próximo dos
textos citados do que Lucas 1:44 – incluindo o texto em que a filha de Herodias
dança perante Herodes antes de pedir a cabeça de João Batista (Mt 14:6; Mc
6:22), e quando o filho pródigo retorna à casa (Lc 15:25).
Se a intenção de Lucas era mesmo
a de fazer um paralelo com os textos que falam da arca, por que ele não usou os
verbos próprios para “dançar” (orcheomai ou choros), que são usados
nestes outros textos? Por que Dave também não diz que o rei Saul era a arca da
aliança, já que as mulheres de Israel “dançaram com
alegria” (1Sm 18:6) na presença de Saul, precisamente como Davi fez na
presença da arca? Por que um texto com muito mais traços de similaridade não
tem qualquer associação com os textos que falam da arca, mas um com muito menos
características em comum tem que estar relacionado?
Calma que ainda tem mais...
2º Samuel
6:10-11 – Por isso Davi não quis levar a arca do Senhor à cidade de Davi; mas
Davi levou-a à casa de Obede-Edom, o giteu. E a arca do Senhor permaneceu na
casa de Obede-Edom, o giteu, três meses...
Lucas
1:39, 56 – Naqueles dias, Maria levantou-se e foi apressadamente à região
montanhosa, a uma cidade de Judá. (...) E Maria ficou com ela cerca de três
meses, e voltou para sua casa.
Uau! Aparece “três meses” em um
texto e “três meses” no outro, que coisa impressionante! Está provado: Maria é
a arca da aliança!!!
Espere um momento, parece que
temos uma outra arca da aliança: Jeoacaz, que reinou três meses em
Jerusalém!
“Tinha
Jeoacaz a idade de vinte e três anos, quando começou a reinar; e três meses
reinou em Jerusalém” (2º Crônicas 36:2)
Então, temos duas arcas da
aliança: Maria e Jeoacaz. É isso. Paz a todos vocês que est...
O quê!? Mais uma arca???
“Tinha
Joaquim dezoito anos de idade quando começou a reinar, e reinou três meses
em Jerusalém; e era o nome de sua mãe, Neusta, filha de Elnatã, de Jerusalém” (2º
Reis 24:8)
Tá bom, Joaquim também, é a
trindade das arcas da aliança. Fechou!
Espere, tem alguém no telefone.
Ele diz que passou – veja só que sinistro – ele diz que passou três meses (eu
disse três meses!!!) discutindo com os judeus na sinagoga, e por isso merece
ser a arca também!
“E,
entrando na sinagoga, [Paulo] falou ousadamente por espaço de três meses,
disputando e persuadindo-os acerca do reino de Deus” (Atos 19:8)
E não é só isso: ele passou três
meses três vezes! Inacreditável! Surreal!! Como alguém é capaz de
negar algo tão óbvio? Paulo é a arca da aliança!!!
“E três
meses depois partimos num navio de Alexandria que invernara na ilha, o qual
tinha por insígnia Castor e Pólux” (Atos 28:11)
“E,
passando ali três meses, e sendo-lhe pelos judeus postas ciladas, como
tivesse de navegar para a Síria, determinou voltar pela macedônia” (Atos
20:3)
Agora podemos bater o martelo:
Paulo é a... what? Tem alguém aqui dizendo que também aparece três
vezes relacionado à expressão três meses! Que incrível coincidência!
Isso só pode significar que ele é a arca também (e que talvez ele e Paulo sejam
o mesmo também!).
“Pela
fé Moisés, já nascido, foi escondido três meses por seus pais, porque
viram que era um menino formoso; e não temeram o mandamento do rei” (Hebreus
11:23)
“Nesse
tempo nasceu Moisés, e era mui formoso, e foi criado três meses em casa
de seu pai” (Atos 7:20)
“E a
mulher concebeu e deu à luz um filho; e, vendo que ele era formoso, escondeu-o três
meses” (Êxodo 2:2)
Até mesmo Tamar, que se passou
por prostituta, foi descoberta depois de – adivinhe só – três meses! Arca da aliança
pra ela também!
“E
aconteceu que, quase três meses depois, deram aviso a Judá, dizendo:
Tamar, tua nora, adulterou, e eis que está grávida do adultério. Então disse
Judá: Tirai-a fora para que seja queimada” (Gênesis 38:24)
E quanto tempo levou para os
israelitas chegarem no Sinai após saírem do Egito? Não vá me falar que foi...
essa não: três meses!
“No
dia em que se completaram três meses que os israelitas haviam saído do
Egito, chegaram ao deserto do Sinai” (Êxodo 19:1)
Eu já perdi as contas, mas acho
que a arca da aliança é: (1) ela mesma, (2) Maria, (3) Jeoacaz, (4) Joaquim,
(5) Paulo, (6) Moisés, (7) Tamar, (8) todos os hebreus que saíram do Egito. É
arca pra tudo o que é gosto! “Método Armstrong” de interpretação fazendo
escola!
Para piorar, o texto que ele
cita nem mesmo diz que Maria ficou três meses na casa de Isabel, mas “cerca de três meses” (Lc 1:56), enquanto o
texto que fala da arca não diz “cerca de”, mas diz apenas “três meses”. Algumas
traduções (como a ACF e a ARC) traduzem Lucas 1:56 como “e Maria ficou com ela quase três meses”, ou seja, nem
chegou a ser três meses, mas dois. O grego traz o advérbio hosei, que
pode significar «aproximadamente, quase» (#5616 de Strong). É o mesmo termo que
consta no texto que diz que “já era quase a
hora sexta” (Lc 23:44) quando Jesus morreu.
Ou seja, Dave pega um texto que
nem mesmo fala de três meses completos para dizer que Maria é a arca da
aliança, mas ignora todos os textos que falam de três meses completos
relacionados a outros personagens (que Dave não acredita serem a arca). É
depois desse show de horrores que Dave interrompe sua sessão de empilhamento de
versos e inicia a sessão de textos que não dizem nada com nada:
Uma
reflexão mais aprofundada sobre “lugares sagrados” e “itens sagrados” traz à
tona o significado do impressionante simbolismo paralelo. O templo e o tabernáculo
eram sagrados, e este era especialmente o caso do santo dos santos, onde a arca
era guardada. Dizia-se que Deus habitava acima da arca, entre os dois querubins
(Êx 25:22). A presença de Deus sempre conferiu santidade (Dt 7:6, 26:19; Jr
2:3). A mobília do tabernáculo não podia ser tocada por ninguém, salvo alguns sacerdotes,
sob pena de morte (Nm 1:51-53, 2:17, 4:15).
Legal! Empolgante! Só falta
mostrar o que isso tudo tem a ver com Maria. Talvez Dave consiga no parágrafo
seguinte:
O
sumo sacerdote só entrava no santo dos santos uma vez por ano, no dia da
expiação (Nm 29:8). Os judeus amarrariam uma corda em sua perna caso ele
morresse por comportamento impróprio (Lv 16:2, 13), para que pudessem puxá-lo
para fora. Isso era verdade para a própria arca. Uzias apenas estendeu a mão
para segurá-la quando estava tombando e foi morto (2Sm 6:2-7). Outros morreram
quando simplesmente olharam para dentro dela (1Sm 6:19; cf. Êx 33:20).
Sim, e como muitas pessoas
morreram ao simplesmente olhar ou tocar em Maria, está provado que Maria era
mesmo a arca da aliança. Finalmente! Demorou, mas enfim Dave formulou um
argumento decente, que sugere fortemente que Maria é de fato a arca da aliança.
É por essas e outras que Dave é o grande refutador do protestantismo, o mito dos
4.000 artigos, o apologista mais famoso da face da terra...
Espere um momento. A necromante
de En-Dor está aqui me dizendo que isso nunca aconteceu! Eu mal pude
acreditar, porque se o grande Dave ArmSTRONG (o próprio nome já diz tudo) diz
alguma coisa, eu nem preciso consultar na Bíblia. Mas como ela insistiu, eu dei
uma lida nos evangelhos e não encontrei nenhum texto onde alguém morra por estender
a mão a Maria ou por olhar para ela, nem vi alguém amarrando cordas na perna
para não morrer perto dela.
Parece piada, mas Dave
literalmente dá um argumento que serve exatamente ao propósito oposto ao que
ele deseja. Ele quer provar que Maria é a arca da aliança, e para isso ele traz
textos relacionados à arca que de modo algum são aplicáveis a Maria. Se até o
Flash tem o “Flash Reverso”, os católicos também merecem ter o “Apologista
Reverso”!
É
assim que Deus considera as pessoas e até mesmo os objetos inanimados que estão
próximos dEle. Assim, convinha que Maria, como arca da nova aliança, Theotokos
(“portadora de Deus”): aquela que teve a sublime honra de trazer Deus encarnado
em seu ventre, fosse excepcionalmente santa.
É engraçado como essa conclusão
salta do nada. Mesmo que concordássemos que Maria tinha que ser «excepcionalmente
santa» (o que não é o mesmo que ser imaculada ou incapaz de pecar), isso ainda
não faria dela “a arca da nova aliança”. Trata-se de uma petição de princípio,
que é quando se pretende provar que certa proposição é verdadeira partindo
pressuposto de que ela é verdadeira (em vez de chegar a essa conclusão através
das premissas). Seria como se eu dissesse: “A Igreja Universal do Edir Macedo, como
a única Igreja de Cristo, é muito boa em praticar exorcismos”. Mesmo se
fosse verdade que a Universal é boa em exorcizar as pessoas, ainda assim não se
segue que ela é a “única Igreja de Cristo”.
Dave faz a mesma coisa quando
diz que “convinha que Maria, como arca da nova aliança, fosse
excepcionalmente santa”. Ele não está provando que Maria é a arca da aliança,
porque Maria ser a arca da aliança faz parte da própria premissa que ele
colocou (uma conclusão tomada de antemão, sem seguir premissa nenhuma).
(Meu
artigo) Cabe ressaltar que nada na Bíblia indica que a arca tipifica algo ou
alguém... com Elias-João ainda há uma confirmação bíblica da tipologia,
enquanto com a “arca-Maria” não há absolutamente nada.
(Resposta
do Dave) Forneci quatro analogias impressionantes acima, que desmentem essa
afirmação.
Nós vimos o quão “impressionantes”
foram as suas analogias, Dave (eu estou impressionado até agora!).
Em seguida, Dave cita os textos
que eu mesmo menciono no artigo (que dizem que nós somos o templo de Deus e a
morada do Espírito Santo), e então comenta:
Vê
como santidade e proximidade com Deus andam de mãos dadas? Este é precisamente
o ponto católico sobre Maria dar à luz a Deus, o Filho; o Deus encarnado. A
santidade perfeita é altamente apropriada; embora não seja absolutamente
necessária, conforme explicado. São Paulo define esse ponto em suas análises da
habitação do Espírito Santo em todos os crentes cristãos, observando que isso
deve nos levar a “evitar a imoralidade” e “glorificar a Deus em seu corpo” e
ser “um espírito com ele” e “sai do meio deles e separa-te deles”: tudo porque
somos templos do Espírito Santo.
O curioso é que todos esses
textos que ele cita (1Co 3:16-17, 6:17-20 e 2Co 6:15-17) se dirigem aos
próprios crentes aos quais Paulo escrevia, os quais eram obviamente
pecadores, apesar de serem habitação do Espírito Santo e templos do Deus vivo. Se
esses textos provam alguma coisa, não é que Maria foi imaculada, mas que o fato
de ser santa e de ter Jesus em seu ventre não a impedia de cometer pecados
(como qualquer outra pessoa que é templo do Espírito Santo e que é chamada de “santa”
em um conceito bíblico). Dave diz que com Maria é diferente, mas não mostra um
único argumento sério, racional ou bíblico para isso.
E
como isso é inconsistente com – e muito menos uma refutação – a noção de que
era apropriado para Maria estar sem pecado porque ela deu à luz Deus, o Filho,
em seu corpo por nove meses?
Então quer dizer que Maria foi
sem pecado porque engravidou de Jesus por nove meses, mas os crentes que são habitação
do Espírito Santo são pecadores mesmo assim. Aparentemente, só o que importa é
o corpo, já que a única coisa que diferencia Maria dos outros crentes é o fato
de ter gerado Jesus fisicamente. Isso é ainda mais irônico vindo da boca de um
imortalista dualista, que não perde a primeira oportunidade de desprezar o
corpo em detrimento da alma ou do espírito, este sim tido como realmente
importante.
O que Dave deveria fazer é
provar que por Maria ter gerado Jesus fisicamente ela não poderia ter pecado,
mas ele próprio se embaraça neste ponto quando diz que isso não era “necessário”,
mas apenas “apropriado”. Se não era necessário, o que garante que Maria não
pecou? Se crentes “cheios do Espírito Santo” (At
2:4, 4:31, 7:55, 11:24; Lc 1:67) mesmo assim pecam, por que Maria não podia
pecar com Jesus no seu ventre? É porque Jesus é mais santo que o Espírito
Santo, ou porque o corpo é mais importante que o espírito? E mesmo se Maria não
pudesse pecar enquanto tinha Jesus em seu ventre, o que impede que pecasse antes
ou depois disso (quando sua condição seria a mesma dos demais crentes)?
Foi
porque Deus sabia que Maria quase certamente cairia em pecado como todos nós,
mas por Seu ato especial de graça em sua concepção, que Ele fez isso, para que
ela fosse um vaso perfeitamente santo para o Deus encarnado: como é totalmente
apropriado e adequado.
Legal, mas seria uma pena se
isso contrariasse absolutamente tudo o que absolutamente todos os Pais da
Igreja comentaram a respeito (veja aqui
e aqui).
Os Pais não só negaram a imaculada conceição de Maria unanimemente, como
também nunca a viram como a “nova arca da aliança”, apontando em seu lugar outras
tipologias mais apropriadas, como a Igreja, o corpo de Cristo e a pregação do
evangelho (veja aqui).
É uma pena que o Strong Dave não estivesse vivo naquela época para ensinar-lhes
as «quatro analogias impressionantes acima», que deixariam todos eles de queixo
caído e os faria mudar de opinião em dois segundos.
E
todos nós somos “arcas” em um sentido ainda maior: sendo templos de Deus
Espírito Santo e todas as três pessoas da trindade (muitas outras passagens
indicam). Tudo isso é baseado em abundantes provas bíblicas.
É curiosa essa afirmação – de que
nós também somos “arcas”, e em um sentido ainda maior que o de Maria –,
não só porque eu nunca vi isso da boca de outro apologista católico (aproveitei
para consultar mais sites católicos antes de escrever este artigo e também não
encontrei), mas porque o próprio catecismo não diz nada disso. Como você pode
ver aqui,
o catecismo diz que Maria «é em pessoa a filha de Sião, a arca da aliança,
o lugar onde reside a glória do Senhor: ela é “a morada de Deus entre os homens”
(Ap 21:3)», chegando até a distorcer bisonhamente um texto do Apocalipse para
este fim, mas não encontrei lugar nenhum que chamasse todos nós de “arcas
da aliança”, como Dave faz (ele gosta tanto de “fontes oficiais”, mas parece
que não lê as dele).
Você pode fazer o teste por si
mesmo: digite “Maria arca da aliança” no Google, e veja quantos sites católicos
dizem que o mesmo se aplica a todos nós (ou pelo menos a todos os católicos, já
que nós somos os hereges). O próprio Dave tem um artigo mais antigo sobre isso
(este aqui),
que é de onde ele copiou e colou tudo o que escreveu acima, menos essa parte
sobre nós também sermos a arca, porque isso ele adicionou agora (diante dos
argumentos que eu dei no artigo). Se todos os bilhões de cristãos que já
existiram são “arcas”, por que a obsessão em se provar que Maria é a
arca? Por que nenhum papista acrescenta este pequeno detalhe de que ela é só
mais uma entre bilhões de outras arcas (e pior, num sentido ainda maior
que ela)?
E se nós somos arcas num sentido
ainda maior que Maria (porque somos habitação de toda a trindade e não só
de Jesus, se eu entendi bem o raciocínio), e mesmo assim somos pecadores, por
que os apologistas católicos insistem em usar a arca da aliança como um
argumento que prova que Maria era perfeita como a arca e, portanto, imaculada?
De que forma Maria ser a arca acrescentaria qualquer coisa, se todo mundo
também o é? Eu gostaria que todos os apologistas católicos fossem como Dave e
me poupassem tantas horas de debate tentando provar algo que Dave concede logo
de cara, só faltando oferecer um café. É muita gentileza.
Paz a todos vocês que estão em
Cristo.
Por Cristo e por Seu Reino,
- Siga-me no Facebook para estar por dentro das atualizações!
Bendiciones hermano, exelente artículo. Si Dave responde otra vez el artículo de Josefo Flavio y responde algo sobre mis comentarios, me avisa para yo escribir una respuesta y añadirlo en la posible tercera respuesta que escribas. Mi facebook es Charles Yovani Fuentes. Bendiciones
ResponderExcluirGracias! Tranquilo, te lo haré saber :)
ExcluirNão vejo a hora disso tudo virar um livro para que eu possa prefaciá-lo!
ResponderExcluirTambém não vejo a hora :)
ExcluirMais um míssil lançado na cabeça do Dave Armweak (entendedores entenderão). Cara, você é uma máquina de escrever artigos. Eu levaria meses pra escrever um único artigo desses. Vai refutar os 4000 "artigos" dele?
ResponderExcluirNão há necessidade de se refutar os 4 mil porque a grande maioria é apenas repetição daquilo que ele já disse em outros artigos (foi o que eu notei ao dar uma olhada nos artigos antigos dele e comparar com os atuais), eu diria que se alguém pegar 100 artigos dele pra refutar já refuta os 4 mil (o que eu faria com prazer quando tiver tanto tempo livre quanto ele).
ExcluirDessa série de refutações aos artigos dele, você vai escrever novos livros contra os católicos ou vai apenas ampliar os antigos?
ExcluirEu vou apenas publicar em formato de livro essas refutações, até pretendo escrever um livro novo (com conteúdo original) um dia (uma espécie de "Manual de Refutação às Doutrinas Católicas"), mas mais pro futuro mesmo, porque já tenho uns cinco livros na frente na fila esperando pra serem escritos rs
ExcluirLa experiencia hace al maestro. Banzoli tiene años de escribir artículos, es fluido para escribir a medida que va pensando en los argumentos. O también se le puede dictar a la computadora para que escriba lo que uno dice. Bendiciones
ExcluirGracias :)
ExcluirLucas, já ouviu falar sobre jan zizka? Recentemente assisti um filme da Netflix sobre as guerras hussitas e achei muito interessante.
ResponderExcluirNão conhecia, dei uma pesquisada aqui sobre ele e fiquei impressionado, quando eu puder vejo esse filme da Netflix, você lembra do nome?
ExcluirO nome do filme é: Medieval.
ExcluirEsse vídeo fala sobre ele, é bem interessante: https://youtu.be/nhYv2AAW5H8
ExcluirQue vídeo phoda, bom demais. Pena que ele disse que o filme (que eu ainda não assisti) é ruim (ele escreve isso aqui no comentário fixado do vídeo): "Assisti o filme, o roteiro é ruim, a produção é meia boca, filme chato, mudam a história, ficam mostrando desgraça sem precisar e o filme deveria começar onde acaba. A história real é muito mais legal!!!". Espero que um dia façam um filme (ou uma série inteira) à altura, o Žižka merece...
ExcluirLucas Poderia me tirar umas dúvidas por favor?
ResponderExcluirAntes da imprensa existir, existia uma quantidade grande de número bíblias?acredito que eram escritas a mão mesmo assim não invalida a sola scriptura, porque mesmo que uma quantidade grande de pessoas (Talvez) não tivesse a bíblia, a mensagem pregada pelos líderes era a mensagem das escrituras e o fato de ser oral não importa, penso assim.
Outra questão que tenho dúvida é sobre a Bíblia de Gutemberg, que os católicos usam muito esse argumento, queria saber se a lista dos livros é exatamente a mesma do canon da igreja romana ou não como eles afirmam.
Boa noite.
Grande quantidade como hoje não, em grande parte devido à própria proibição da leitura da Bíblia levada à cabo pela própria Igreja, que não tinha o menor interesse que o povo comum tivesse acesso às Escrituras (eu falo sobre isso no artigo abaixo). No Judaísmo, embora a maioria dos judeus não tivesse um AT completo em mãos, eles pelo menos tinham acesso nas sinagogas, onde os rolos das Escrituras estavam disponíveis a qualquer um que quisesse manuseá-los, como se fosse uma espécie de biblioteca (o próprio Jesus pega um desses rolos e o lê diante de todos em Lucas 4:17). Na Igreja primitiva era igual, uma pessoa era responsável por ler as Escrituras em voz alta diante de todos, para que todos a conhecessem como se estivessem lendo por conta própria. Paulo pede à Timóteo que "até a minha chegada, dedique-se à leitura pública da Escritura" (1Tm 4:13), e João diz "feliz AQUELE [singular] que lê as palavras desta profecia e felizes AQUELES [plural] que ouvem" (Ap 1:3), porque um lia e os outros escutavam. O que Roma fez foi limitar o acesso ao máximo e abolir as leituras públicas que eram comuns antes (exceto o pouquíssimo que se lia nas missas, e mesmo assim em um idioma que ninguém entendia porcaria nenhuma).
Excluirhttp://www.lucasbanzoli.com/2018/04/conheca-toda-perseguicao-e-proibicao-da.html
Sobre a Bíblia de Gutenberg, ela tinha os mesmos livros da Vulgata Latina de Jerônimo (a Bíblia oficial usada pela Igreja latina, a Romana), que são os mesmos 73 que a ICAR usa hoje. O que acontece é que Jerônimo explicitamente disse na introdução dos 7 apócrifos católicos que eles não eram canônicos e não serviam pra fundamentar doutrina, e que estava incluindo na sua tradução da Bíblia apenas para a edificação dos fiéis. Por isso o fato de estarem na Bíblia (seja na Vulgata ou nas Bíblias que se seguiram) era um fato irrelevante por si só, que não encerrou o debate. Ao longo de toda a Idade Média e mais tarde muitos doutores da ICAR mantiveram a posição de Jerônimo e defenderam o cânon "protestante", e mesmo nas Bíblias da Reforma esses livros constavam, mas com a mesma observação de que não eram canônicos (assim como muitas Bíblias de hoje tem mapas, referências e notas de rodapé, que também não são canônicas). Então o fato desses livros estarem ali era uma coisa, e esses livros serem canônicos é uma coisa totalmente distinta (que Roma só resolveu em Trento, um século depois da Bíblia de Gutenberg, e por uma margem apertada de votos).
Só uma pequena correção: A Bíblia de Gutenberg tinha, dentre os livros do Antigo Testamento, os apócrifos III e IV Esdras. No site abaixo, que é uma espécie de versão digital da Biblioteca Nacional da França, pode-se consultar essa Bíblia online, podemos ver o índice e conferir nas páginas digitalizadas que constavam tais livros, que não foram reconhecidos pela Igreja Católica no Concílio de Trento, quando se definiu o cânon católico de forma definitiva.
Excluirhttps://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k991433p
Interessante, dessa eu não sabia, obrigado por compartilhar conosco!
ExcluirEntendi Lucas Muito obrigado por esclarecer !!
ResponderExcluirDe nada!
ExcluirLucas, você tem alguma parte traduzida desse livro que você recomendou?
ResponderExcluirhttps://www.amazon.com.br/Revisiting-Corruption-New-Testament-Manuscript/dp/082543338X/ref=sr_1_6?crid=9VV4MAVVX701&keywords=daniel+b.+wallace&qid=1673547534&sprefix=%2Caps%2C711&sr=8-6&ufe=app_do%3Aamzn1.fos.6121c6c4-c969-43ae-92f7-cc248fc6181d
Tentei mandar essa mensagem pelo seu canal do youtube, mas as mensagens não apareceu. O youtube bloqueia links?
Infelizmente não tenho. O youtube deve ter bloqueado mesmo, porque o comentário não apareceu pra mim :/
ExcluirBuenas,
ResponderExcluirConhece o autor Frank Viola ? Ele vai bastante na linha do que em Inglês se chama "House Church", conhece esse movimento ? O que pensa ?
Li alguma coisa do Frank e ele parece fazer uma espécie de desconstrução das igrejas institucionais, que ao ver dele acumularam tradição demais e não expressam mais as igrejas do Novo Testamento.
www.frankviola.com
Eu li há muito tempo atrás o livro dele "O Cristianismo Pagão". Achei algumas conclusões dele forçadas demais, do tipo que quer fazer tempestade num copo d'água, mas independentemente disso eu concordo com a premissa básica, a de que as igrejas em casas são muito mais compatíveis com o modelo de igreja e de liturgia do NT do que as igrejas/templos de hoje (o que não significa que seja errado congregar em templos, mas se alguém viajasse numa máquina do tempo para a era apostólica para ver como era um culto naquela época provavelmente iria tomar um susto).
ExcluirLucas, preciso de ajuda com uma questão da Bíblia, o pecado original. Estou caindo na doutrina ortodoxa e isso esta me fazendo passar por uma crise de fé. Se puder elaborar uma resposta na questão do 'Análise de Romanos 5:12-21 e de 1 Coríntios 15:21-22'; 'O Salmo 51:5 ensina que as pessoas nascem no pecado?' e a questão de Davi agradeço, pfvr faça apenas se puder.
ResponderExcluirSabe argumentar contra esse artigo? https://defendendoafecrista.wordpress.com/2015/12/13/pecado-original-verdade-ou-heresia/
Se o link não for bata pesquiser 'pecado original: verdade ou heresia'
O artigo aparentemente refuta todas as bases bíblicas para o pecado original.
Eu só não entendi de que forma negar o pecado original te levaria a uma "crise de fé". Eu defendo exatamente o mesmo que este autor aí expôs no artigo (inclusive no meu livro das "200 Respostas" tenho dois debates sobre o assunto) e nunca tive uma "crise de fé". Crer no pecado original agostiniano nunca foi premissa para ser cristão ou para ser protestante, isso seria o mesmo que alguém ler meu livro contra a imortalidade da alma e ter uma "crise de fé" por estar "caindo na doutrina das TJ", simplesmente não faz sentido. Um grupo ou igreja não se torna verdadeiro por causa de um ou outro ponto em que esteja certo, tem muitos outros pontos de muito mais importância onde os ortodoxos falham (e pelas mesmas razões dos católicos, como a oração aos mortos por exemplo, que é biblicamente um absurdo grotesco e faz parte da essência da doutrina deles), só uma pessoa de mente fraca engoliria um pacotão de heresias só por descobrir uma ou outra coisa onde eles acertam.
ExcluirEu estava lendo o artigo de Dave e a primeira refutação dele é dizer que a Igreja não ensina que Maria foi concebida sem pecado original por ser isso uma condição necessária, mas por ser apropriado (ou seja, conveniente), e aí ele chama de ignorantes os católicos que pensam que a imaculada conceição de Maria era algo necessário.
ResponderExcluirBom, encontrei um artigo do padre Paulo Ricardo (o mesmo que certo dia chamou os evangélicos de idiotas, lembra?), que se mostra como um dos padres mais bem conceituados teologicamente entre os católicos, dizendo isso:
“(…) Deus fala de inimizade entre a serpente e a mulher, e entre os descendentes da serpente e os descendentes da mulher. A descendência de Satanás é, na verdade, o pecado, com o qual ele deseja se multiplicar e encher a terra. Portanto, existe inimizade entre Maria/Jesus e Satanás/pecado. Essa inimizade significa uma oposição total e completa. Assim, quando duas coisas estão em inimizade, elas não têm nada a ver uma com a outra; não há absolutamente nenhuma cooperação ou comunhão entre ambas. Isso significa que Jesus e Maria se opõem completamente a Satanás e ao pecado, não possuindo nenhuma cooperação ou comunhão com eles.
Era necessário que Maria não tivesse uma natureza decaída, pois qualquer participação no pecado original, ou mesmo no pecado pessoal, destruiria sua inimizade com Satanás e o pecado. Por conseguinte, nesse primeiro anúncio do plano salvífico de Deus, vemos sua intenção de manter Maria totalmente livre do pecado, a fim de que Jesus pudesse assumir uma natureza humana incorruptível.”
Fonte: https://padrepauloricardo.org/blog/uma-defesa-biblica-do-dogma-da-imaculada-conceicao
É interessante notar a ignorância do padre Paulo Ricardo acerca do dogma da imaculada conceição de Maria, segundo as palavras de Dave, já que o padre afirma que era necessário que ela fosse concebida sem o pecado original, ou seja, totalmente livre do pecado “… a fim de que Jesus pudesse assumir uma natureza humana incorruptível”.
Outra coisa que encontrei foi que a pesquisa encomendada pelo Papa Pio IX com os bispos do mundo todo antes da proclamação do dogma parecia que tinha essa premissa da necessidade desse privilégio mariano:
ResponderExcluir“(…) Com o passar dos séculos, o debate dos teólogos se acalmou, clarificando e aprofundando ainda mais a questão mariana. No século XIX, o Papa Pio IX interrogou os bispos dos diversos países, evidenciando que a necessidade de se declarar o privilégio da Imaculada Conceição de Maria exprimiria o sentimento comum de toda a Igreja. Todavia, a consulta ressaltava que é necessário relacionar tal privilégio com a redenção de Jesus Cristo. (...)”
Fontes: https://www.a12.com/academia/catequese/imaculada-conceicao-de-maria-2
https://comunidadepiox.org.br/natividade-dogma-da-imaculada-conceicao-de-maria/
https://slideplayer.com.br/slide/380460/
Por fim, pasme, Dave considera ignorante o próprio Papa Pio IX que, além de ter encomendado uma consulta a respeito da necessidade do privilégio mariano, no mesmo parágrafo da Bula que fala da conveniência da concepção imaculada, fala também da necessidade dela:
“30. A estas, depois, eles juntaram outras nobilíssimas expressões. Falando da Conceição da Virgem, atestaram que a natureza cedeu ante a graça: parou trêmula, e não ousou avança. A Virgem Mãe de Deus não devia ser concebida por Ana antes que a graça afirmasse o seu poder: porquanto devia ser concebida aquela primogênita da qual seria depois concebido o primogênito de toda criatura. Professaram que a carne da Virgem, se bem derivada de Adão, não lhe contraiu as manchas; que, por isto, a beatíssima Virgem foi aquele tabernáculo construído por Deus, formado pelo Espírito Santo, e verdadeiramente de púrpura, o qual aquele novo Beseleel teceu de ouro e com variedade de bordados; que ela foi de fato e justamente celebrada, por ser a obra-prima de Deus, por haver escapado aos dardos inflamados do maligno, e porque, bela por natureza, e absolutamente imune de toda mácula, na sua Conceição Imaculada ela apareceu no mundo como uma aurora de perfeito esplendor. Com efeito, não era conveniente que aquele vaso de eleição fosse ofuscado pelo defeito que ofusca os outros, porque ele foi diferentíssimo dos outros, e, se com eles teve de comum a natureza, não teve de comum a culpa; antes, convinha que o Unigênito, assim como teve nos céus um Pai exaltado pelos Serafins como três vezes santo, assim também tivesse na terra uma Mãe à qual nunca faltasse o esplendor da santidade.”
Fonte: https://www.montfort.org.br/bra/documentos/decretos/20060220/
Muito bem observado, o Dave adora dar esse tipo de desculpa quando não tem argumento, diz que o adversário está "atacando um espantalho" só porque o argumento refutado não é o mesmo que o dele (como se todo mundo tivesse que adivinhar o que ele pensa, ou como se ele fosse o papa da apologética católica e todo mundo tivesse que trabalhar em cima da linha de argumentação dele). Em vez de atacar os apologistas católicos que dão argumentos "errados", prefere atacar os protestantes por refutarem esses argumentos. E o pior é que, como você bem demonstrou, às vezes é ele mesmo que não sabe o que a própria Igreja que ele defende diz (o que é um tanto quanto vergonhoso para alguém que está na apologética há quatro décadas e que literalmente vive disso...).
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